09 abril 2018

UM LUGAR SILENCIOSO não me deixou em paz

postado por Manu Negri


Um lugar silencioso é o mais novo filme da princesa Emily Blunt, dirigido pelo seu marido John Krasinski (o Jim de The Office), enquadrado nessa nova e maravilhosa onda dos filmes de horror, para o qual eu não estava dando nada mesmo depois dos trailers, até as pessoas começarem a falar bem, porque eu sou Maria-vai-com-as-outras, e é isto.

A sinopse, sobre uma família que vive numa casa de campo em absoluto silêncio, se comunicando através de sinais, na tentativa de sobreviver à uma ameaça desconhecida atraída por sons, me lembrou a trama de Caixa de pássaros. Só que, no caso dela, a ameaça é algo que a pessoa VÊ e a mata em seguida. O livro é uma merda, o filme será lançado num futuro próximo na Netflix com a Sandra Bullock protagonizando, mas, se a produção conseguir fazer com que a adaptação seja ótima como é Um lugar silencioso, eu serei obrigada a gongar Caixa de pássaros só pela metade.

Um lugar silencioso é mais uma prova de que eu não sobreviveria muito tempo em ambientes pós-apocalípticos (no caso, eu morreria antes de ser pós). Para garantir o oxigênio de cada dia, é preciso andar nas pontas dos pés, em areias macias, ter movimentos delicados e vagarosos, sussurrar e, de preferência, se comunicar por sinais. Não pode cantar ópera, não pode assoviar, não pode peidar alto. Do contrário, criaturas extremamente nojentas numa versão upgrade do Demogorgon vêm rapidinho arrancar seus membros numa patada. Aliás, o visual delas é bem perturbador, principalmente quando mostram a cavidade auricular responsável pela sua audição superpotente. Denotam toda a aura de perigo e morte que a produção, provavelmente, ansiava.


Apesar de o filme revelar seus "monstrinhos", indo contra aquele terror psicológico sobre aquilo que não vimos/aquilo que não sabemos (como o ótimo Ao cair da noite), ele trabalha muitíssimo bem a questão do silêncio e do barulho para provocar uma atmosfera de tensão constantemente incômoda. Um lugar silencioso não me deixou em paz. Fazia tempo que eu não precisava cobrir os olhos ou os desviar da tela por antecipar algo assustador. Se você tiver a sorte de assistir em uma sala de cinema livre de neandertais, vai experimentar uma imersão, eu diria, necessária. Principalmente no início da projeção, quando nos é apresentado o cenário daquele futuro (2020, pra ser mais exata) devastado e a importância do silêncio quase absoluto, os coleguinhas de sessão não deram um pio sequer. Eu cheguei a parar de mastigar um pouco a pipoca e prender a respiração. Não passava uma agulha no de ninguém. Eventuais sons que vinham de fora da telona me sobressaltavam. O filme tem alguns jumpscares, sim, mas que em nenhum momento soaram gratuitos e, por isso mesmo, funcionaram.

O elenco inteiro está muito bem. Raramente falando uns com os outros, os personagens - como já dito - se comunicam por sinais, pela expressão facial e pelos olhos. O medo estampado no rosto, a tristeza, a angústia e o amor são pungentes (inclusive, numa cena perto do final e que tem tudo a ver com isso, foi quando estive prestes a chorar). Emily Blunt brilha! Não vou ficar cheia de dedos pra contar porque isso está no trailer, mas (caso não tenha visto e nem queira ver o trailer, passa para o próximo parágrafo!) a sua personagem está grávida e imagino que os outros que assistiram comigo também ficaram sofrendo por antecipação sobre como criariam um bebê que chora e grita durante uns bons anos da vida. A preocupação e desespero que Blunt passa somente com linguagem corporal, antes e depois do parto, impressionaram.


Krasinski tem toda a minha empatia pelo marido e pai protetor e humano, que quer manter a família longe de ameaças até onde não estiver ao seu alcance. Noah Jupe (o BFF do menino Auggie, em Extraordinário) convence como o filho amedrontado pela nova realidade, que precisa encontrar coragem interior, mas quem rouba as cenas no elenco infantil é Millicent Simmonds. A atriz, deficiente auditiva na vida real e também como a personagem primogênita do casal (condição responsável por uma sacada bem legal no filme), é extremamente carismática e fez um belo trabalho. Agora, estou curiosa para vê-la em Sem fôlego, longa recente do amado Todd Haynes (diretor de Carol), ao lado de Julianne Moore. 

Um lugar silencioso pode até ter uns probleminhas de roteiro, mas que não tiram seu brilho. O aspecto do horror, harmoniosamente mesclado com o drama, resulta em uma obra que dá uma nova lufada fresca ao gênero, emocionando pelo contexto dos fortes laços familiares em relação à solidão, esperança e ao futuro. 





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