Ontem foi a pré-estreia de La la land, um dos favoritos para entrar na corrida do Oscar. O que posso dizer? É um desses filmes que dá vontade de guardar num potinho, de tão adorável.
Mas, antes, uma confissão: paguei língua.
Sou especialista em tecer comentários requintados no Twitter. Esse foi publicado durante a exibição do Globo de Ouro, quando via La la land abocanhar todos os prêmios que torci para Moonlight levar. E, detalhe: eu não tinha assistido a nenhum dos dois ainda; Moonlight só estreia em fevereiro no Brasil, mas como a gente precisa se agarrar a alguma produção pra deixar a premiação mais emocionante, fui conquistada pelo trailer e pelos fucking 98% de aprovação no Rotten Tomatoes.
Não que o Globo de Ouro tenha algum valor a não ser o buzz, mas é a primeira vez que um filme ganha 7 estatuetas – incluindo Melhor Filme de Comédia ou Musical. Sim, La la land é um musical, e, apesar de constar 3 musicais na minha lista de filmes favoritos da vida (Moulin Rouge, Chicago e Dançando no escuro), tenho uma pequena resistência a eles. Se você também tem, tente quebrá-la. Não prive-se de passar a sessão inteira assim:
Mia (Emma Stone) é uma aspirante a atriz que trabalha em uma cafeteria dos estúdios Warner Bros. Sebastian (Ryan Gosling) é um pianista de jazz apaixonado pelo gênero musical que sonha em abrir seu próprio clube. Entre as dores e as delícias de seguirem seus próprios caminhos, os dois se esbarram em um feliz encontro onde um tentará ajudar o outro a se achar na vida. E La la land, pelo que pesquisei, era um apelido para a cidade de Los Angeles – onde tudo acontece no filme, e para onde todos os sonhadores vão quando querem tentar a sorte grande.
A cena inicial, aliás, é espetacular: um plano sequência (ou uma ilusão de plano sequência, mas quem se importa?) sobre uma ponte de carros engarrafados em direção a L.A, em que vários motoristas cantam, dançam e fazem piruetas em frente a uma câmera de movimentos extremamente fluidos, nos dando um gostinho de como será o jogo de cenas a partir dali. Em La la land, os cortes secos não são prioridade; a câmera não apenas dança junto de seu elenco, como acompanha seus passos e movimentos fora dos números musicais com delicadeza e precisão.
Palmas para o diretor, Damien Chazelle, que com apenas 31 anos já tem outra produção superelogiada no currículo, Whiplash, presente na minha lista de melhores filmes de 2015. Inclusive, La la land estaria na minha compilação de 2016 se não tivesse demorado tanto a estrear no Brasil. Mesmo jovem, Chazelle parece ter total domínio do que faz, com um talento peculiar para trabalhos envolvendo design de som e o próprio jazz – semelhanças que este filme e Whiplash compartilham.
Manipulando cores vivas que parecem se abrigar umas nas outras, La la land é um filme absolutamente encantador e com um visual belíssimo. E quando falo encantador, me refiro à sua atmosfera: ele não tem o propósito de entregar um roteiro denso ou com conflitos; sua premissa é até bastante simples, mas que conquista o espectador pela maneira lúdica com que é contada. São muitas referências a musicais clássicos, ao cinema em si, ao jazz e à era de ouro de Hollywood. As cenas musicais, de planos longos e abertos, valorizam a coreografia e entram e saem de forma muito espontânea. Para completar, Emma Stone e Ryan Gosling, que já são naturalmente carismáticos, entregam uma química gostosa e honesta entre seus personagens.
La la land possui sequências memoráveis além da primeira, como uma de dança que acontece em um planetário e outra mais pro fim do terceiro ato, que me envolveram em momentos de alegria, gargalhadas, nós na garganta e em um sentimento agridoce difícil de ir embora.
(Ouça a trilha sonora – em loop – aqui)