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A ÚLTIMA CASA DA RUA NEEDLESS vai moer o seu cérebro

“Este livro vai fazer você surtar.”

Como se não bastasse A última casa da rua Needless estar listado como um dos 50 melhores livros de terror de todos os tempos (segundo a revista Esquire), essa frase entre aspas está estampada na capa, como um lindo cartão de visitas, proferida por ninguém menos que Stephen King — conhecido como o Mestre do Horror.

Então, como boa escrava dele que sou, é claro que fui dar um conferes.

Escrito por Catriona Ward, A Última Casa da Rua Needless é um thriller psicológico e de terror que desafia as nossas expectativas a cada página, e eu não diria que isso é exagero. Com uma narrativa fragmentada e personagens complexos, a história se desenrola de forma muito intrigante, conduzindo a gente por um labirinto de segredos até culminar em um desfecho que nem Baba Vanga seria capaz de prever.

 

O enredo

A trama gira em torno de Ted Bannerman, um homem solitário que vive em uma casa decadente no fim da Rua Needless, acompanhado de sua gata Olivia e da presença esporádica de sua filha Lauren.

Ted é um personagem misterioso, cuja mente parece repleta de fragmentos desconexos. O desaparecimento de uma menina chamada Lulu anos atrás, o isolamento de Ted e os estranhos acontecimentos dentro da casa fazem com que a gente questione constantemente qual a ligação dos fatos.

A narrativa se alterna entre diferentes perspectivas, incluindo a de Olivia, a gata (sim, a GATA), e a de uma mulher chamada Dee, que busca respostas para o desaparecimento da menina, que é sua irmã. Cada ponto de vista adiciona camadas à trama.

E quando falo do gênero terror ao qual A última casa da rua Needless pertence, eu não falo de “jumpscares” de filmes de terror tradicionais (não que seja possível alguém pular de susto enquanto lê um livro),

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mas de um clima quase que constantemente pesado e perturbador. A própria casa onde Ted vive, por exemplo, é um lugar escuro, estropiado, quase um personagem por si só (não à toa dá nome ao livro), evocando a sensação de claustrofobia e desconforto.

A narrativa picotada e os pontos de vista não muito confiáveis fazem com que o leitor fique o tempo todo tentando montar um quebra-cabeça, com a sensação de que algo profundamente errado permeia a história.

Além disso, vamos combinar que o fato de termos uma gata como narradora adiciona um elemento surreal que reforça a estranheza do livro.

 

O nó na sua cabeça

Não sei como anda a sua autoestima, mas eu aposto que A última casa da rua Needless vai te chamar de burro(a) em cinco idiomas diferentes. E, sinceramente, não acho esse um ponto negativo, muito pelo contrário. Eu gosto mesmo de entrar de cabeça nesse tipo de obra com o cérebro lisinho tal qual um peito de frango pra ser surpreendida ao máximo.

Enquanto eu passava de capítulo pra capítulo, estava dando 80 reais de Uber entre um neurônio e outro.

Catriona Ward costura cada página de forma muito inteligente, brincando com a nossa percepção e desviando a atenção para direções inesperadas, levando a gente a reconsiderar o que achávamos saber. Ao longo do livro, ela planta pequenas pistas que, apesar de não serem falsas, impedem que o leitor antecipe o desfecho facilmente, tornando as tentativas de prever o final um jogo de adivinhação frustrante.

Mas nada é forçado; tudo é construído de maneira orgânica, o que fica claro quando a gente chega ao epílogo e percebe como as coisas se encaixaram.

É claro que um leitor muito atento e experiente em thrillers pode captar algumas dessas pistas, mas eu coloco minhas fichas na mesa: a maioria das pessoas não acerta a resolução com precisão.

 

⚠️ Resumo do enredo com spoilers

Mas se você quer saber o paranauê de tudo, vamos lá: desde o início, Ted é apresentado como alguém perturbado, com insinuações de que ele pode ter de fato sequestrado a tal Lulu que desapareceu.

Dee acredita piamente que Ted fez isso e, anos depois, decide investigá-lo de perto, se acomodando na rua Needless. Eu mesma cheguei a cogitar que Lauren era Lulu. A forma como Ted se comporta — solitário, desorganizado, com lapsos de memória e medo constante — também provoca a gente a acreditar que ele realmente esconde um segredo sombrio.

Bom, de certa forma, esconde (sem saber que esconde).

Uma realidade distorcida: quem é quem?

À medida que a história avança, como eu disse no começo do texto, a estrutura narrativa começa a revelar que a percepção dos personagens não é confiável.

Acontece que um dos maiores plot twists de A última casa da rua Needless, se não for o maior, é que Ted e Lauren são a mesma pessoa. Ted sofre de Transtorno Dissociativo de Identidade (TDI), resultado de abusos severos que sofreu na infância.

  • Lauren não é sua filha, mas uma personalidade alternativa de Ted.
  • Olivia, a gata, representa uma parte dissociada da mente de Ted, funcionando como sua voz racional e protetora.
  • As “memórias confusas” de Ted vêm de um trauma profundo e da manipulação psicológica que sofreu da própria mãe.

E a verdade do caso Lulu é que a menina morreu acidentalmente em uma floresta, sem que ninguém soubesse.

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Foi até difícil colocar meu queixo de volta no lugar.

O livro engana de forma brilhante ao nos fazer acreditar que Ted é possivelmente um vilão (um protagonista vilão, o que já seria interessante), apenas para reverter essa ideia completamente e mostrar que ele é, na verdade, uma vítima.

Na real, o Ted é um personagem profundamente trágico, provando que o verdadeiro terror muitas vezes não é sobrenatural, mas psicológico e humano. E isso quebrou meu coração. ❤️‍🩹

 

Em suma, A Última Casa da Rua Needless é um daqueles livros que permanecem na mente muito depois da última página. É assim que eu tenho certeza de que vale cada parágrafo.

Nota:

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