26 junho 2018

Duas horas emocionantes na pele de CAPTAIN SPIRIT

postado por Manu Negri


Em maio do ano passado, a equipe criadora de Life is Strange divulgou um vídeo comemorando as 3 milhões de cópias vendidas, aproveitando para anunciar que o game, pela glória de Kate Marsh, ganharia uma segunda temporada, cujo desenvolvimento começou logo após o lançamento da mídia física do jogo original. Meses depois, uma nota discreta dizia que teríamos novidades sobre isso logo; motivo suficiente para Strangers (prazer) do mundo todo ficarem de orelhinhas em pé com a Electronic Entertainment Expo, carinhosamente (rs) conhecida como E3. Pra quem não sabe, o evento é o maior de games do mundo, e, pela primeira vez em três anos, a Square Enix, distribuidora de Life is Strange, apresentaria um painel com novidades. Com isso, os rumores de um teaser, trailer ou qualquer migalha sobre o jogo novo eram bem fortes, vinhado. 

Quem costuma acompanhar tudo o que sai na mídia a respeito dele sabe que a temporada nova não será com as mesmas personagens. E, para a nossa surpresa, pouco antes da E3 tivemos uma notícia, sim, mas com o anúncio de uma demo de Life is Strange 2 chamada The awesome adventures of Captain Spirit. Segundo Michel Koch, codiretor e diretor de arte de Life is Strange na desenvolvedora DONTNOD, esse minigame é um elo entre o primeiro jogo e o segundo e, à primeira vista, gira em torno de uma manhã de um sábado qualquer na vida de Chris, um garoto de 10 anos que tem imaginação de sobra pra transformar tudo à sua volta em mundos inteiros pra explorar. Koch disse que é um convite para sairmos da nossa rotina, que, muitas vezes, esquece como é a sensibilidade de uma criança, a fim de voltarmos um pouco à infância e sermos acertados em cheio pela nostalgia.

Bom, ele estava certo. Funcionou.


Mas DONTNOD é DONTNOD, e esse game poderia ser tudo, menos superficial. Lançado oficialmente e mundialmente dia 26 de junho, de GRAÇA - um presente para os fãs, disseram - , para Xbox One, Playstation 4 e PC (Steam), The awesome adventures of Captain Spirit confirma a que veio a agora franquia Life is Strange: criar um retrato delicado de dramas humanos que, de forma muito natural, faz com que o público se veja refletido em personagens e situações tão comuns da vida real. Ou, no mínimo, que provoque empatia em nós. Essa é uma reação geral entre jogadores impactados pelo game; mesmo a primeira temporada sendo focada em adolescentes, basta ver como os fãs não se resumem a eles e pertencem a gerações diferentes em inúmeros aspectos. Life is Strange trata da linguagem universal da empatia, e não de poderes sobrenaturais. A habilidade de voltar no tempo da primeira protagonista, Max, é "só" uma ferramenta para explorar o perdão, a perda, a compreensão, a amizade, a bondade e a nossa capacidade de ir além dos limites para preservar quem mais amamos.

(puta que pariu, DONTNOD, e eu não tô nem recebendo pra escrever isso)

Em Captain Spirit, isso também se faz presente, de uma forma diferente. Com a mesma equipe de Life is Strange, envolvendo Raoul Barbet, Koch e o roteirista Christian Divine, foi evocado na demo o melhor da franquia em termos narrativos: uma fotografia linda, uma trilha sonora escolhida a dedo para reforçar a imersão do jogador, personagens cativantes e uma boa e bem contada história. Captain Spirit tem em torno de apenas 2 horas de duração, mas deve dar um banho de envolvimento em muito jogo longo por aí. Um banho bem dado. Com espumas. E Monange.




O QUE MUDA E O QUE NÃO MUDA NA JOGABILIDADE


Primeiro: não é necessário ter jogado Life is Strange para conferir esse aqui. Captain Spirit ainda é um point and click, mas com mais "liberdade". Pra começar, ele não é linear: você está livre para ir e vir quantas vezes quiser dos ambientes. Também continua no esquema de "suas escolhas e ações afetam o desenrolar", porém, com um plus: certos momentos e interações com outros personagens podem ser perdidos dependendo do que você faz ou deixa de fazer, como responder prontamente ou não ao chamado do pai do Chris para o café da manhã. E mais: é possível concluir o game com poucos MINUTOS se você fizer o garoto tomar x atitude, mas, obviamente, você perde demais da história. Se quiser a dica pra isso não acontecer, arraste o mouse até o ponto final: em determinada cena, o pai diz que você pode acordá-lo caso ele durma assistindo ao jogo na TV. Simplesmente não o acorde até terminar todos os desafios do jogo.   

Existe mais autonomia nos diálogos também, com mais opções de respostas que mudam a trajetória. Além disso, eles têm timing, similar ao que ocorre em jogos da Quantic Dream e da Telltale: se você não escolhe a resposta dentro do prazo, o jogo escolhe por você.

Ah, e se em Life is Strange havia um "botão mágico" para fazer Max voltar no tempo, aqui ele serve para Chris realizar algumas tarefas com uma espécie de turbo do alter-ego Captain Spirit, bem nos moldes de como uma criança brinca de super-herói.

Confirmadamente inspirado em Sailor Moon


EASTER EGG É BOM E A GENTE GOSTA


Michel Koch já tinha alertado a galerinha que em Captain Spirit encontraríamos easter eggs que o ligassem a Life is Strange, além de pistas para Life is Strange 2. Meu sonho de princesa que Max ou Chloe aparecessem caminhando ao fundo de algum cenário? Sim. Mas até mesmo uma iludida com ascendente em trouxa reconhece limites. (mentira)


Voltar no tempo pra esquecer esses jogos e começar tudo de novo? Check.


Vejam só quem também estudou em Blackwell.


Um urso caolho, pirata e com três cartuchos de bala no peito (alô, Chloe)? Opa!


Lembra do urso caolho da Max, chamado Capitão?


Bom, pelo menos ninguém me mandou catar as latas de cerveja num muquifo onde nem o Google Maps poderia me achar caso eu me perdesse.


O gostosão Hawt Dawg Man está por toda parte em Captain Spirit, inclusive em um joguinho bem MANEIRO que bota Flappy Bird no chinelo:



E, bem... é. Ouch. *TRIGGERED*


Isso foi no primeiro episódio de Life is Strange.


DONTNOD: A MESTRA DA SUTILEZA


Como foi em Life is Strange, aqui boa parte da história é contada nos detalhes. Um bom jogador da franquia sabe que explorar cantos e interações levam a recompensas. ABRA SEUS ÓLEOS. É a força das sutilezas dessas narrativas que as tornam tão memoráveis e absorvíveis.

Captain Spirit esconde no universo lúdico de Chris um escape e os maiores medos e desejos do menino, uma também poderosa forma de trabalhar sua personalidade. Repare os monstros, vilões, combates e cenários montados em sua cabeça e perceba quem e o que representam no mundo real. Repare até na letra da música tema, Death with dignity, do Sufjan Stevens. Como muita coisa nos jogos, é preciso ir além da primeira camada. E isso vale também para os personagens: todos são multifacetados, evitando que o jogador caia na facilidade de odiar determinada pessoa por suas atitudes claramente reprováveis. Nada é preto no branco.


The awesome adventures of Captain Spirit é uma carta de amor da DONTNOD aos fãs, um game lindo e uma jogada de marketing inteligente; afinal, como já diziam os poetas de supermercado, é de uma degustação grátis que vem a compra. Eu espero que a demo chegue cada vez mais a pessoas diferentes por esse motivo, para que a palavra de Life is Strange seja multiplicada e, a empatia, idem.

O anúncio de Life is Strange 2 saiu junto com Captain Spirit, afinal (arrancamos os cabelos e teorias saíram do forno nos dez minutos seguintes). O game, inclusive, já está em pré-venda e o episódio 1 de 5 será lançado no dia 27 de setembro.

Nota:




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