03 janeiro 2018

Os (meus) melhores filmes de 2017

postado por Manu Negri


Não, eu não consegui passar de 100 filmes assistidos em 2016 e estou atribuindo isso e todo o mau aproveitamento do meu tempo livre ao videogame.

Apesar disso, foi razoavelmente difícil eleger meus filmes favoritos do ano (independente da data de lançamento). Foi muita coisa boa. Ao mesmo tempo, sinto que serei apedrejada por alguns por causa do ranking. Bom, mas se nem Jesus agradou a todos, imagina eu, que nem me esforço mais.

(peço apenas que deixemos de lado a minha pequena trapaça, porque terminei de ver os filmes que queria no dia primeiro de janeiro. Mas foi só um diazinho a mais. O que importa é que eu tinha me programado pra assistir até dia 31 – o famoso "o que vale é a intenção" e autodenúncia desnecessária)



15. OKJA, de Bong Joon-ho, 2017 | Trailer

Do diretor de Expresso do amanhã e de dois filmes que quero muito ver e ninguém está interessado em saber mas vou dizer mesmo assim - O hospedeiro e Memórias de um assassino -, Okja acompanha a história de amizade entre Mija (rs) e Okja, um superporco gigantesco meio que criado artificialmente (não lembro porque faz tempo que assisti, Brasil), otimizado pra servir de alimento, revolucionando a pecuária global. Uma empresa multinacional quer produzir 'Ojkas' em série pra ganhar muita grana, mas o problema com esse bicho em especial é que Mija vai fazer de tudo pra que sua BFF continuar viva, do seu lado.

Produção original Netflix com Crítica Social Foda® - conscientização sobre consumo de animais, industrialização em massa, capitalismo desenfreado -, um elenco importante (Tilda Swinton, Paul Dano e Jake Gyllenhaal estão nele, mas a garotinha que faz Mija rouba a cena muitas vezes) e um uso de CGI bem bacana!

Curiosidade: uma amiga bem próxima parou de comer carne depois de assistir ao filme. Não é lenda urbana, essas pessoas existem.


14. UM LIMITE ENTRE NÓS, de Denzel Washington, 2016 | Trailer

Pra começar, ele deveria se chamar CERCAS, como no original, que tem muito mais a ver com o filme e com seus simbolismos.

Dirigido e atuado por Denzel Washington, a história baseada na aclamada e premiada peça teatral homônima segue o dia a dia de um jogador de beisebol aposentado, que sonhava em se tornar um grande jogador durante sua infância e agora trabalha como coletor de lixo para sobreviver. Ele terá de navegar pelas complicadas águas de seu relacionamento com a esposa, o filho e os amigos.

Contando com poucos cenários, Um limite entre nós Cercas se ancora num roteiro sensacional, repleto de diálogos fortes (verborragia corre solta), e em atuações marcantes de personagens reais e complexos. Viola Davis está maravilhosa. A vida nem sempre (ou, talvez, quase nunca) segue aquilo que um dia traçamos e é mais dura do que gostaríamos, mas quando estamos rodeado de quem amamos, pode ser mais fácil caminhar.


13. THELMA, de Joachim Trier, 2017 | Trailer

O candidato da Noruega ao Oscar 2018 (mas que não deve ser selecionado) busca apresentar a descoberta sexual e social de Thelma, uma jovem tímida e reprimida que deixa a casa dos pais para estudar em Oslo, onde vive seu primeiro amor. No entanto, essa experiência é logo afetada pela intromissão opressiva de sua família e de suas crenças religiosas. O negócio é que, quando Thelma fica muito chati, fenômenos sobrenaturais como pássaros morrendo e luzes piscando começam a acontecer e terminam em convulsões.

Thelma é uma fábula de terror psicológico sobre a autodescoberta. Ares de Carrie, A Estranha, uma pegada original, uma fotografia fria e pesada, metáforas sobre nossos medos, liberdade, desejos e uma atuação que me encantou completamente de Eili Harboe, quem interpreta a protagonista.



12. EU, DANIEL BLAKE, de Ken Loach, 2016 | Trailer

Já falei desse filme de ARREGAÇAR o coração em um outro post de indicações.

Vencedor da Palma de Ouro de 2016, o filme acompanha Daniel, que, após sofrer um ataque cardíaco e ser desaconselhado pelos médicos a retornar ao trabalho, busca receber os benefícios concedidos pelo governo a todos que estão nesta situação. Entretanto, ele esbarra na extrema burocracia instalada pelo governo, amplificada pelo fato dele ser um analfabeto digital. Numa de suas várias idas a departamentos governamentais, ele conhece Katie, mãe solteira de duas crianças, que se mudou recentemente para a cidade e também não possui condições financeiras para se manter.

Eu, Daniel Blake é o retrato real, cru e tocante de como o governo pode massacrar a vida da população mais carente. Mesmo com vários momentos ternos, até engraçados, ele choca ao nos colocar na posição de quem se sente como uma estatística, e não como ser humano, diante daquele que deveria nos amparar. Tem uma cena tão, mas tão desesperadora que eu demorei uns cinco minutos no cinema pra retomar o ar – e nem foi no final.


11. EU, TONYA, de Craig Gillespie, 2017 | Trailer

(Esses títulos de filme estão cada vez mais originais)  

Craig Gillespie, responsável pelo queridinho cult A garota ideal, traz a história real da patinadora artística Tonya Harding, que ficou famosa mundialmente por ter sido a primeira mulher americana a completar o axel triplo em competições e por um incidente que acabou com sua carreira. Como ela mesma diz, em um minuto era amada pelo público e, no outro, odiada.

Glória e decadência se misturam nesse filme que, apesar de pisar em terreno pesado, como violência doméstica, é divertido, irreverente e mostra uma perspectiva que o mundo não conhecia (ou não conhecia muito bem até então): a da dura vida de Tonya, que, no fim das contas, só queria ser amada de verdade. Terminei de assistir sentindo uma grande compaixão por essa pessoa.

(Tenho até vergonha de dizer, mas Margot Robbie está ótima aqui e eu achava que ela era só aquela loira-Barbie que põe um salto na testa no Leonardo DiCaprio em O lobo de Wall Street e fez a Arlequina de Esquadrão Suicida)



10. AO CAIR DA NOITE, de Trey Edward Shultz, 2017 | Trailer

Também já fiz um texto todinho só pra ele, aqui.

Ao cair da noite nos convida a acompanhar uma família composta por Paul, Sarah e Travis, que tenta sobreviver em um mundo pós-apocalíptico em que a população está sendo dizimada por causa de uma misteriosa doença altamente contagiosa. Para se protegerem, eles usam máscaras de gás, trancam as portas e janelas da casa que transformaram em lar, sempre saem em dupla e nunca, nunca saem à noite, exceto em casos de extrema urgência. Mesmo com pouca comida e água, tudo vai relativamente bem até que a ordem preestabelecida entre os três é abalada com a chegada de um homem, Will, que pede abrigo ao provar que não está contaminado.

Eis um belo trabalho de construção de clima onde o que mais importa é a viagem, e nem tanto o destino, sob o ponto de vista do espectador. Paranoia e apreensão constante de que algo aconteça dão o tom, como um bolha esperando ser estourada. O que está lá fora? Will está sendo sincero? Ele está escondendo alguma coisa? Por quê?


9. A GAROTA DE FOGO, de Carlos Vermut, 2014 | Trailer

MANO DO CÉU. Se prepara pra desgraçar a cabeça.

Em A garota de fogo, também conhecido como Magical Girl, personagens de realidades diferentes se encontram, dando sequência a acontecimentos que vão transformar suas vidas.

Alicia é uma criança doente que sonha com o vestido da série japonesa "Magical Girl Yukiko". Luis, seu pai, fará de tudo ao seu alcance para consegui-lo. Durante sua busca, seu destino se cruza com Bárbara, uma jovem atraente e com transtornos mentais, além de Damián, um professor aposentado que possui um passado conturbado. Luis, Bárbara e Damián ficarão envolvidos em uma obscura teia de chantagens, onde instintos e razão serão testados em uma luta trágica.

Esse é o tipo de filme que eu preciso levar uns dias pra absorver e avaliar. Ou seja, você não vai se esquecer fácil dele. Enigmático e chocante demais. Bárbara Lennie, que mulherona da porra.



8. MOONLIGHT, de Barry Jenkins, 2016 | Trailer

Também falei dele aqui.

Vencedor do Oscar do ano passado em um dos momentos mais vergonhosos e marcantes da premiação, em que consagraram por engano La la land como Melhor Filme, Moonlight é uma jornada bastante intimista de seu protagonista, Chiron, dividida em três fases de sua vida – infância, adolescência e idade adulta –, em que ele luta para construir sua identidade e sexualidade em uma sociedade extremamente machista e violenta. 

Moonlight é um filme de silêncios: as expressões faciais e corporais dos personagens conseguem falar mais do que várias linhas de diálogos. A dor da solidão foi lindamente descrita com aquilo que mais a caracteriza – ausências. E, socialmente falando, Moonlight também é um filme importante. Uma viagem poética pelo autoconhecimento. É, acho que gosto muito de obras assim, como já devem estar percebendo, principalmente porque o próximo da lista se encaixa nisso.


7. ME CHAME PELO SEU NOME, de Luca Guadagnino, 2017 | Trailer

Eita filme que chamou a atenção de todo mundo no ano passado. Fortíssimo candidato a várias categorias do próximo Oscar, Me chame pelo seu nome é baseado no livro homônimo de André Aciman e acompanha o sensível Elio, único filho de uma família americana com ascendência italiana. É verão, e ele passa seus dias entre tomar banho de piscina, pegar um solzinho, ler, tocar piano, roubar frutas do pomar da propriedade e pedalar pelas belas e lânguidas paisagens do norte da Itália (próximo destino que você vai querer incluir nas suas férias). Até que, um dia, esse marasmo é interrompido pela chegada de Oliver (Armie Hammer, dono da voz masculina mais sensual do mundo), um acadêmico que veio ajudar a pesquisa de seu pai.

Como disse ali em cima, o florescer da sexualidade. Hormônios a mil. A euforia e a decepção que vêm com o primeiro amor. O ritmo é bem lento, mas é preciso ter sensibilidade para assimilar a delicadeza com que é levado o desenvolvimento da dinâmica entre Elio e Oliver. A cena final de uma conversa entre Elio e o pai é, pra mim, o ápice do filme. Eu poderia até apostar que, se não fosse pela atuação estupenda de menino Timothee Chalamet, Me chame pelo seu nome não seria a mesma coisa. 

Ah, e você nunca mais vai olhar um pêssego da mesma maneira.


6. MANCHESTER À BEIRA-MAR, de Kenneth Logernan, 2016 | Trailer

Um filme de corações quebrados pra quebrar aquele que bate no seu peito. :3

Acho que esse também é um caso de "se fosse outro ator, não seria a mesma coisa". Por mais que Casey Affleck seja considerado embuste por muita gente por ter sido acusado de assédio sexual anos atrás, não dá pra negar que o trabalho dele foi incrível. Em Manchester à beira-mar ele é Lee Chandler, uma espécie de faz-tudo do pequeno complexo de apartamento onde vive, no subúrbio de Boston. Ele passa seus dias tirando neve das portas, consertando vazamentos e fazendo o possível para ignorar a conversa de seus vizinhos. Em suas noites vazias, Lee bebe cerveja no bar local e arruma confusão com qualquer um que lhe lançar um olhar. Quando seu irmão mais velho morre, ele recebe a desagradável surpresa de sua nomeação como tutor de seu sobrinho. De volta à sua cidade natal, ele terá que lidar com memórias queridas e dolorosas.

Não dá pra dizer muito mais que isso da sinopse porque o espectador precisa ir descobrindo aos poucos porque Lee se transformou em alguém amargurado, atormentado e completamente despedaçado. Um drama pesadíssimo que explora como a dor pode ser capaz de paralisar alguém.


5. ANIMAIS NOTURNOS, de Tom Ford, 2016 | Trailer

🌼 ESNOBADINHO DO OSCAR 2017 🌼

Susan é uma negociante de arte que se sente cada vez mais isolada do parceiro. Um dia, ela recebe um manuscrito de autoria de Edward, seu primeiro marido. Por sua vez, o trágico livro acompanha o personagem Tony Hastings, um homem que leva sua esposa e filha para tirar férias, mas o passeio toma um rumo violento ao cruzar o caminho de uma gangue. Durante a tensa leitura, Susan pensa sobre as razões de ter recebido o texto, descobre verdades dolorosas sobre si mesma e relembra traumas de seu relacionamento fracassado.

Animais noturnos é um filme que diz muito mais do que o que você simplesmente vê em tela. Uma história sobre vingança que utiliza paralelamente três linhas do tempo pra conclui-la, cheias de metáforas e simbolismos reforçados por uma escolha acertada da paleta de cores, reflexos de enquadramentos em cada realidade, um roteiro muito bem escrito e um elenco afiado. Cada vez que penso em suas camadas, mais eu gosto dele.   


 4. MÃE!, de Darren Aronofsky, 2017 | Trailer

NÃO SENTA NA PIA NÃO CHUMBADA!

Um dos filmes mais controversos do ano passado, mãe! possui uma sinopse até convencional: um casal vive em um imenso casarão no campo. Enquanto a jovem esposa passa os dias restaurando o lugar, afetado por um incêndio no passado, o marido mais velho tenta desesperadamente recuperar a inspiração para voltar a escrever os poemas que o tornaram famoso. Os dias pacíficos se transformam com a chegada de uma série de visitantes que se impõem à rotina do casal e escondem suas verdadeiras intenções.

Porém, de convencional a trama não tem nada, né, mores que assistiram? Talvez vendido erroneamente como uma espécie de filme de suspense/terror psicológico, mãe! é um graaaande emaranhado de alegorias que, uma vez que você desvenda, elas se encaixam brilhantemente no que está sendo visualmente mostrado. Eu já fiz um textão a respeito, aqui.



3. LA LA LAND, de Damien Chazelle, 2016 | Trailer

É AGORA QUE O CIRCO PEGA FOGO

Que que eu posso fazer se o seu amooooor me pegoooou cê bateu tão forte com o teu amoooor

YUQUEEEEEEEE
Que me desculpem os haters, mas eu sou completamente apaixonada por La la land e nunca canso de assistir. Saí do cinema dançando e me pendurando em postes de iluminação. A trilha é uma delícia (inclusive estou ouvindo-a neste momento). As cenas cômicas são uma delícia. Tudo é gostosinho demais. Eu quero rodar meu vestidinho amarelo com a Emma Stone no meio da rua.

A história do filme une as histórias do pianista de jazz Sebastian e da atriz iniciante Mia, que se apaixonam perdidamente na cidade onde todos os sonhos são possíveis: Los Angeles. Em busca de oportunidades para suas carreiras na competitiva cidade, os jovens tentam fazer o relacionamento amoroso dar certo. Sebastian é branco e quer salvar o jazz porque ninguém mais escuta? FODA-SE. Ryan Gosling é estrábico e não tem o potencial vocal de um tenor? FODA-SE. Existem musicais muito melhores que La la land? SIM, E DAÍ, ALGUÉM TÁ FAZENDO COMPETIÇÃO??

(reajo muito passionalmente a coisas que amo)


2. LADY BIRD, de Greta Gerwig, 2017 | Trailer

SEGURA QUE ESSA PASSARINHA VAI VOAR MUITO NO OSCAR
A PERIQUITA NÃO PRECISA SEGURAR

Incrível como a A24 só tem trazido filme bom ultimamente. Você sabe quem é Greta Gerwig? É uma gostosona talentosa quatro anos mais velha que eu e quem eu gostaria de ter sido na casa dos 20: roteirista foda, diretorzona da porra e atrizona (se bem que nunca sonhei em ser atriz), responsável por aquela pérola chamada Frances Ha. Acho que, acima de qualquer torcida no próximo Oscar, torço pra que ela receba ao menos uma indicação como Diretora. Seria incrível ver uma mulher indicada, coisa que acontece mais ou menos a cada passagem do Cometa Harley.

 A história se passa em 2002: a estudante Christine "Lady Bird" está no último ano do colégio e não faz ideia do que fazer depois que se formar. A convivência com sua mãe, uma enfermeira, é sufocante. Tudo o que vai acontecendo na vida de Lady Bird só a deixa cada vez mais desnorteada. E sim, a sinopse é bem "assim" porque o "tudo que vai acontecendo" são coisas comuns na vida de todo adolescente que está tentando amadurecer, e a protagonista vai entender das formas mais conflitantes que amadurecer não é um conto de fadas. Que roteiro, Greta. Caralho, eu tenho 30 anos e me identifiquei demais com esse filme. Melhor coming of age que assisti há eras (desde Quase 18).

(eu até sugiro que você não assista ao trailer e vá direto assistir ao filme)



1. A GHOST STORY, de David Lowery, 2017 | Trailer

Mais um belo fruto do estúdio A24. Não suporto ouvir alguém dizer que não gostou desse filme.

Quando terminei A ghost story, eu sabia não só que seria difícil algum outro longa ser superior a ele no meu ano, como sabia que ele tinha entrado pra minha mais ou menos seleta lista de filmes favoritos da vida. A ghost story me tocou de forma ABSURDA, a ponto de um nó se criar na minha garganta quando revejo o trailer.

É uma história de um morto assombrado pela vida. Um homem que se vai e retorna para o seu lar em forma de um fantasma, desses de pano branco, para tentar se reconectar com sua esposa que ainda mora lá. Aquela velha ideia de contos de fantasmas, geralmente sob a ótica do terror, é subvertida aqui em uma visão emocionante, sensível e angustiante dentro do molde clássico do espírito atormentado e apegado a um determinado lugar. Uma poesia esplêndida sobre a existência e sobre a grandeza do tempo. Deus sabe como sou sensível a esse tema, e em A ghost story temos a oportunidade de fazer uma belíssima viagem fabulesca através do tempo e do espaço.


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