03 dezembro 2017

DARK: muito, muito mais que uma "nova Stranger Things"

postado por Manu Negri


Olha essa Netflix fabricando séries em série (tum dum tss)!

(calma, pequeno infante! Quando houver spoilers, eu aviso)

Dark - uma produção totalmente alemã - é a mais nova aquisição da fofa que estreou no dia primeiro, já sendo comparada em muitos meios com Stranger things. Mas já adianto: tirando adolescentes andando de bicicleta com lanternas, um clima sobrenatural e desaparecimentos, a série não tem nada a ver com a outra.

A sinopse parece algo formulaico. Em 2019, a pequena cidade de Winden está em busca de um adolescente desaparecido. Poucas semanas depois, outra criança some sem deixar vestígios, próxima a uma caverna nos arredores de uma usina nuclear. Enquanto isso, os habitantes locais estão alertas, mais especificamente as quatro famílias protagonistas que, episódio por episódio, revelarão alguns de seus segredos ao público enquanto tentam desvendar o mistério.

Como o nome sugere, Dark mantém uma atmosfera sombria constante e possui um roteiro muito mais complexo do que parece. Fica difícil falar sem soltar nem um spoilerzinho, mas se você está lendo este texto sem ter tido nenhum contato com a série, mas quer saber se vale a pena dar uma conferida, aqui vai: vale, sim! O ritmo é, digamos, comum de produções europeias, mas à medida que você avança na história, novas e muitas informações são apresentadas, fazendo com que você perca momentos valiosos se ousar PISCAR. Igual novato em Game of Thrones: depois de 10 episódios, ainda não sabe quem é quem e o que as pessoas estão fazendo em cena.

Dark é dona de uma fotografia primorosa, atuações convincentes, uma trilha sonora maravilhosa e uma abertura que não tive coragem de pular em nenhuma oportunidade. Mas, principalmente, Dark é dona de um grande quebra-cabeças que te desafia a solucioná-lo a cada pista, ao mesmo tempo em que ri da sua cara.


A QUESTÃO NÃO É COMO ELAS DESAPARECERAM, MAS QUANDO...

Onde Quando está Mikkel?
Se você não se importa com spoilers, pode continuar por aqui. Ou se já maratonou a série, claro. É bom que me ajuda em alguns questionamentos.

Dark é uma série ambiciosa e densa. Quando você acha que está entendendo, não está entendendo é nada (falo um pouco por mim mesma). Isso é o que acontece quando se aborda viagens no tempo.

Os desdobramentos do desaparecimento dos garotos em 2019 começam a levantar associações com eventos muito semelhantes de 1986, na mesma cidade. Jonas, um jovem de uma das famílias envolvidas nas histórias, se recupera do suicídio recente do pai. Uma carta deixada por ele com autorização para ser aberta somente a partir de determinado dia e horário, uma narração que gosta de enfatizar o quanto tudo está ligado entre passado, presente e futuro, flashbacks e otras cositas más logo no início direcionam Dark para a sua principal abordagem: manipulação do tempo e espaço.

Passamos a conhecer os personagens em três períodos de Winden: 1953, 1986 e 2019. A cada 33 anos, determinadas coisas se repetem - desaparecimentos de crianças, animais mortos pela mesma causa. Alguém abriu uma fenda no tempo em que é possível viajar através dela e, a partir dela, criar uma máquina do tempo testada com cobaias. Por isso, a importância de se perguntar quando?, e não como ou quem sequestrou os jovens. No entanto, nada do que os personagens que passam a conhecer a fenda pretendem fazer no passado pode alterar o futuro: Dark trabalha com um paradoxo do tempo chamado Paradoxo dos Loops de Informação ou Paradoxo de Bootstrap. Ao contrário de Efeito Borboleta ou Life is Strange (oba, consegui mencionar o jogo em mais um texto), em que cria-se uma nova linha temporal quando algo é alterado, aqui o paradoxo é formado quando uma certa informação é enviada do futuro para o passado, de modo que a mesma passa a se tornar a fonte inicial da informação, tal como existia no futuro. Como um loop de acontecimentos que só foram possíveis porque algo do futuro interveio, e o acontecimento acaba se tornando o causador dele mesmo. Loucura, né? É como se tudo fosse predestinado: nesse loop, é impossível alterar o passado, porque todas as coisas que tentamos fazer já aconteceram! Tenho que rever o filme, mas acho que é mais ou menos como em Donnie Darko.

Nessa circularidade do tempo, não sei se Dark pretende responder às suas indagações, mas ao menos ela anseia criar reflexões que unem ciência e filosofia: se tudo é um ciclo, se tudo parece programado, se nossas escolhas soam como ilusões, existe algo ou alguém responsável pelo que acontece? Destino? Deus?

Comecei a achar que talvez a série estivesse sendo expositiva demais, batendo na tecla das conexões interpessoais e de eventos, comparando literalmente personagem do presente e personagem do passado, da duplicidade e repetição (a abertura já faz esse trabalho), mas posso ter me enganado. Ou então eu fiquei deveras confusa, porque é bastante informação pra absorver e compreender, então uns momentos mais didáticos podem ser muito bem-vindos. E olha que nem assim entregam de bandeja; há alguns plot twists surpreendentes, e por mais que eu tenha acertado um deles - o fato de Jonas ser o viajante no tempo de capuz -, isso não significa que sejam necessariamente previsíveis, e sim porque eu simplesmente CHUTEI.       

Jonas, aliás, deixa claro que tudo o que vimos até então é pouca bosta perto da situação macro. Ele, as crianças sumidas e os habitantes de Winden envolvidos nos casos são "meras marionetes". Isso vai ficando cada vez mais sugestivo com o passar dos episódios, mas o último, especialmente sua cena final, já demanda uma segunda temporada pra amarrar as pontas. São muitas perguntas, nem tantas respostas (o que, infelizmente, me fez lembrar um pouco de The OA). Por essas e outras questões, foi até difícil pra mim avaliar Dark; ainda não consegui compreender se algumas incertezas são furos de roteiro ou apenas pistas de uma genialidade roteirística que só será revelada mais à frente (risos).

Pensando nisso, termino o texto com um pedido de ajuda a quem já assistiu tudo: Mikkel é o pai de Jonas e filho de Ulrich ao mesmo tempo. Que uma mesma pessoa pode existir em duas versões de si mesma numa mesma linha temporal está OK (bom, mais ou menos, né), mas COMO CARALHOS a Hannah, mãe do Jonas, tendo se casado com Mikkel e o conhecido desde adolescente, nunca reconheceu o menino filho do vizinho ou no mínimo achou estranho que se pareçam tanto? Jonas nunca viu uma foto do pai criança? Esses parentescos confusos são mesmo reais? Ulrich continua sendo o avô de Jonas?


É ISSO AÍ.

 "O fim é o início, e o início é o fim."



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