27 setembro 2017

A GHOST STORY: um dos filmes mais bonitos que já vi

postado por Manu Negri


A ghost story é uma história humana sobre um morto assombrado pela vida.

Neste filme lindo e delicado como poucos que vi nos últimos tempos, dirigido por David Lowery, Casey Affleck (Manchester à beira-mar) e barbiezinha Rooney Mara (Carol) são um casal apaixonado que mora numa casinha aconchegante de uma cidadezinha tranquila. Em um dia qualquer, como grande parte das coisas da nossa vida que nos pegam de surpresa, o personagem de Casey (que não possui nome, assim como o de Rooney) morre em um acidente de carro. Porém, incapaz de deixar esse plano terreno, seu fantasma volta para vagar no lar que dividiu com a amada.

Um fantasma, assim como na foto, do tipo que a gente assistia em desenho animado quando criança.

Aquela velha ideia de histórias de fantasmas, geralmente sob a ótica do terror, é subvertida aqui em uma visão emocionante, sensível e angustiante dentro do molde clássico do espírito atormentado e apegado a um determinado lugar. A apresentação do filme em formato 1:33:1 (como uma TV), com as bordas arredondadas, me remeteram diretamente àquelas pequenas fotografias antigas - como Polaroids -, a memórias que guardamos conosco (ou das quais nos tornamos prisioneiros), ajudando a construir um clima sufocante de silêncio, perda e solidão. Em A ghost story, os silêncios gritam. O luto está lá, gritando junto desta claustrofobia, fazendo com que uma cena da personagem Rooney comendo compulsivamente uma torta inteira durante cinco minutos pareça a coisa mais linda e triste do mundo.


Agora, C agora não é mais C: é um espectro ambulante por quem conseguimos sentir uma empatia tremenda, mesmo usando um lençol com dois buracos no lugar dos olhos, preenchendo os cantos da casa, mas completamente deslocado. Com esse conceito visual alinhado a uma fotografia intimista e um roteiro descomplicado,  Lowery apresenta uma reflexão poderosa sobre nossa pequenez diante da grandeza do tempo. Deus sabe como sou sensível a esse tema, e em A ghost story temos a oportunidade de fazer uma belíssima viagem fabulesca através do tempo e do espaço, em companhia de C.

É incrível observar como a casa se enche de cores quentes quando M supera (ou se permite superar) a dor e dá boas-vindas a uma nova história para ocupar seus cômodos. É tocante ver a personagem pegando o carro, em sua primeira cena fora da casa depois da morte de C, com o sol bem amarelado cobrindo parte de seu rosto, varrendo a sombra do luto para o passado. A trilha sonora, outra grande metalinguagem do filme, compõe essa gama de soluções simples, mas com tantos significados que fizeram transbordar sentimentos em mim.

A ghost story é o tipo de filme que te impacta e que você leva consigo horas (ou dias) depois que acaba. Nossa história não é única aqui. Existiram outras antes dessa. Pra morrerem e depois chegarem mais uma, mais uma e mais uma, com legados a serem deixados. Como num ciclo, nada é pra sempre. Tampouco nossa dor.

"O fim é belo e incerto, depende de como você vê."

(não acredito que citei O Teatro Mágico num texto de filmes, mas citei)





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