A ghost story é uma história humana sobre um morto assombrado pela vida.
Neste filme lindo e delicado como poucos que vi nos últimos tempos, dirigido por David Lowery, Casey Affleck (Manchester à beira-mar) e barbiezinha Rooney Mara (Carol) são um casal apaixonado que mora numa casinha aconchegante de uma cidadezinha tranquila. Em um dia qualquer, como grande parte das coisas da nossa vida que nos pegam de surpresa, o personagem de Casey (que não possui nome, assim como o de Rooney) morre em um acidente de carro. Porém, incapaz de deixar esse plano terreno, seu fantasma volta para vagar no lar que dividiu com a amada.
Um fantasma, assim como na foto, do tipo que a gente assistia em desenho animado quando criança.
Aquela velha ideia de histórias de fantasmas, geralmente sob a ótica do terror, é subvertida aqui em uma visão emocionante, sensível e angustiante dentro do molde clássico do espírito atormentado e apegado a um determinado lugar. A apresentação do filme em formato 1:33:1 (como uma TV), com as bordas arredondadas, me remeteram diretamente àquelas pequenas fotografias antigas - como Polaroids -, a memórias que guardamos conosco (ou das quais nos tornamos prisioneiros), ajudando a construir um clima sufocante de silêncio, perda e solidão. Em A ghost story, os silêncios gritam. O luto está lá, gritando junto desta claustrofobia, fazendo com que uma cena da personagem Rooney comendo compulsivamente uma torta inteira durante cinco minutos pareça a coisa mais linda e triste do mundo.