13 junho 2017

Eu fui a Ellen Page em Beyond: two souls e botei pra quebrar

postado por Manu Negri


Quando joguei Life is strange no computador, há quase sete meses, não imaginava que hoje estaria com um videogame novo em casa.

Eu gosto de me incriminar (mas ainda não sei o que é MMORPG)
Eu iniciei aquele texto dizendo que não me considerava gamer de verdade, já que não costumo acompanhar os lançamentos e minhas referências de vida eram Super Mario e derivados. A ponta visível da web que escondia a deep web gamística de mim. "Não posso, não há tempo". "Tempo a gente sempre arranja, mesmo que seja de madrugada", teria dito na época Jot, grande responsável por essa minha mudança de ideia e que me introduziu no mundo desses novos jogos. Segundo ele, existem gamers que jogam pela diversão (alô, Mario e Donkey Kong) e os que procuram conteúdos mais intensos (não que isso exclua a diversão, claro). Aparentemente, estou me afeiçoando muito a esse segundo tipo. Life is strange foi só a porta de entrada para drogas mais pesadas (apesar de eu ainda duvidar que outro jogo me faça sofrer tanto de abstinência quanto esse, como vocês verão mais por aqui).

E é nesse novo hobby, por onde ainda navego tímida fazendo descobertas tolas perante gamers experientes, que conheci Beyond: two souls, um jogo da Quantic Dream distribuído pela Sony exclusivamente para Playstation 3 em 2013. Também desenvolvido em sistema de escolhas (em que as escolhas do personagem suas, no caso influenciam o desenrolar de sua história), ele transita por 15 anos da vida da protagonista Jodie (Ellen Page), que nasceu com uma entidade presa ao seu corpo, que ela chama de Aiden. Muitas vezes agindo fora do controle do corpo dela (bem Poltergeist), Aiden é responsável por Jodie ser estudada em um laboratório da CIA, comandado pelo dr. Nathan (Willem Dafoe), e posteriormente usada em missões militares.

Eu joguei a versão remasterizada para Playstation 4, lançada em 2015, que dá a opção de jogar a história em ordem cronológica ou na ordem original, que pula de uma fase para outra (infância para adolescência, depois volta para infância, depois vai para a vida adulta, e assim vai). Essa foi a que escolhi e, no fim das contas, tenho minhas dúvidas se isso ajudou ou prejudicou o ritmo do jogo. Uma coisa que achei muito apropriada foi a pergunta educada que Beyond: two souls fez pra mim antes de iniciar a linha do tempo: "a madame está acostumada a jogar muito videogame ou sóoo de vez em quando?". Ufa, que bom que perguntou, porque não, não estou acostumada (ainda!), então o modo easy foi muito bem-vindo. E olha que mesmo assim eu apanhei (pobre n00b).  

Aiden apertando uns pescoços alheios
O legal é que você controla não apenas a Jodie, mas o Aiden também, de acordo com o que a cena pede (ele explora ambientes, assusta pessoas, atrapalha a Jodie, possui pessoas ou mesmo as mata). Os movimentos dele são bem fluidos, como uma entidade se comportaria "de verdade", flutuando pelo ar, atravessando paredes, fornecendo memórias para Jodie, curando, etc. É muito orgânico. Foi interessante para eu poder explorar mais os conjuntos de botões L e R, que ficam atrás do controle, coisa que fiz pouco em Life is strange (exceto para usar o poder de voltar no tempo, que exige pouquíssima habilidade). Outro ponto bacana é que, mesmo que você não tenha controles para dois jogadores, você pode chamar mozão ou coleguinha pra jogar Beyond: two souls com você através do aplicativo  Beyond: touch disponível de graça para Android e IOS. Dessa forma, uma pessoa comanda a Jodie e, a outra, o Aiden (porém, não é possível comandá-los ao mesmo tempo; o jogo continua no modo single player).     

Falando (ainda) em jogabilidade, como deve ser normal pra qualquer pessoa que começa um novo jogo (espero que sim, risos), demorei para me acostumar com os controles. Ainda preciso ganhar mais coordenação motora e visual para futuros jogos de ação, como The last of us, que estou com muita vontade de começar, por exemplo. Sim, Beyond: two souls tem bastante ação se comparado à minha primeira jogatina no Playstation (dei porrada, levei porrada, fugi, corri, escalei, caí, BOTEI PRA QUEBRAR), no entanto, somos menos protagonistas dessas cenas de ação em si. Deu pra entender? Não atuamos diretamente nelas, mas somos guiados para que elas aconteçam como o roteiro pede (em lutas, por exemplo, você usa os controles para desviar de golpes ou aplicar golpes; não é nada parecido com Mortal Kombat) o que descobri, só agora, se tratar de QTE (Quick Time Event). Bom, isso foi ótimo devido à minha falta de experiência, mas pode incomodar jogadores mais maduros. Ou não. A essa altura, eles já conhecem o estilo da Quantic Dream.  


Para completar  a moleza de Beyond: two souls, não tem como morrer no jogo (bem... não da maneira convencional em que você morre e joga a fase de novo até passar, ou leva game over). Por outro lado, isso é legal porque contribui para que o roteiro da história Jodie seja alterado a cada falha ou sucesso, até mais do que as escolhas que fazemos optando por uma resposta que Jodie dá a alguém (fria, solidária, irônica, etc.) ou outras decisões (conseguir dinheiro seguindo caminho x ou y, deixar seu colega ser torturado ou não, etc.).

Aliás, a dinâmica entre os personagens é bem importante aqui. Por mais que a relação que mais me tocou tenha sido justamente a de Jodie com Aiden, ela conhece um punhado de gente durante sua jornada, e a forma como você lida com elas define muito do que acontece com você depois. Algumas interações, na minha opinião, foram pouco desenvolvidas a ponto de eu me importar pra valer (principalmente interações românticas). Outras, em contrapartida, não precisaram de muito tempo para me envolver: bastaram o conjunto de acontecimentos intensos para que eu sentisse a conexão de Jodie com determinados personagens, algo muito gratificante particularmente, pelo final do jogo em que cheguei depois de quase dez horas (a propósito, Beyond: two souls tem 24 possibilidades de finais diferentes!).    

Enquanto Life is strange parece uma série, Beyond: two souls soa como um filme longo: roteiro cinematográfico, trilha sonora linda (com composição de Hans Zimmer, apenas o cara responsável pelas músicas de nomes como Interestelar, A origem e a trilogia Batman), gráficos hiperdetalhados e atuações irretocáveis. Sim, não poderia deixar de ser: toda a animação do jogo foi feita a partir da captura dos movimentos e expressões faciais do elenco, que esteve brilhante, considerando as condições curiosas dessas capturas no estúdio desenvolvedor (veja o vídeo abaixo do trailer).

E, como num filme, Beyond: two souls vai te recompensar. Se você for sábio durante suas ações, prepare-se para um arco muito bonito de Jodie e um desfecho emocionante.







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