Jordan Peele é conhecido por escrever projetos de comédia, como a série de cinco temporadas Key and Peele. Em Corra!, seu primeiro longa como diretor e roteirista, ele mescla as nuances do humor e do thriller para apresentar uma Crítica Social Foda™ sobre racismo. Se esse cenário já não fosse instigante o suficiente, pense que o filme tem 99% de aprovação no Rotten Tomatoes, angariando simplesmente 229 críticas positivas contra apenas 1 negativa. Um feito raro para obras do gênero atuais.
PENSA onde estavam as minhas expectativas.
Bom, pena que muitas vezes elas servem pra nos iludir, né, mores? Não que esse tenha sido o caso! Corra! é uma pequena joia criativa perdida em um mar de embustes, mas como eu esperava a obra-prima do suspense do novo século, afirmo como minha opinião: o hype do filme foi maior que o próprio filme.
A história acompanha Chris (interpretado pelo ótimo Daniel Kaluuya, de Black Mirror), um jovem negro que viaja com a namorada caucasiana Rose (Allison Williams, de Girls, também ótima aqui) para a casa dos pais dela, que ainda não o conhecem. Lá, ele é muito bem recebido pelos sogros, mas começa a achar que tem alguma coisa errada ao perceber não apenas que todos os empregados são negros, como agem de maneira robótica.
A atmosfera do terror sugestivo é trabalhada de forma muito eficiente, principalmente no primeiro ato. Há o atropelamento assustador de um veado na estrada, a casa de campo distante da ~civilização, o irmão perturbado, conversas sobre hipnose, janelas acesas no meio do breu da noite, trilha arranhada, comportamentos inesperados, cenas alternadas que não dizem nada a princípio, mas te deixam com a pulga atrás da orelha, etc. O problema é que o roteiro não parece se preocupar em ser imprevisível, ou eu e meus amigos com quem assisti Corra! somos gênios dos plot twists (e não, não somos). Adivinhamos praticamente 90% do que ia acontecer, e isso fez com que os outros dois atos perdessem parte da graça. Nem mesmo a revelação final me recolocou dentro da vibe da história, de tão inverossímil que soou. Era proposital? Provavelmente, vocês dirão. Afinal, é uma fábula, não é?
Mas, ai.
No entanto, palmas para as atuações, em especial a de Betty Gabriel em uma cena particularmente perturbadora, e para os momentos cômicos-ácidos inteligentemente bem colocados, que ficaram a cargo na maioria das vezes pelo personagem Rod, melhor amigo de Chris, que está por fora do centro dos acontecimentos mas desempenha um papel muito importante no desfecho.
A crítica ao racismo não é sutil (a menos que você seja um mau observador), o que não é um ponto negativo. É pra ser fácil de refletir. A última cena, aliás, funciona como um soco - mas teria doído mais se fosse levada para um outro caminho.
Estreia nos cinemas brasileiros dia 18 de maio.