Agora uso um Kindle. Precisarei de fotos mais criativas :P |
Spoiler: o livro com menor nota deste blog é do meu autor favorito.
O ano era 1966. Stephen King, aos 19 aninhos, escrevia seu primeiro romance. Eu, aos 19, no máximo escrevia listas de compras e uns resumos de estudos na faculdade. Ou seja, apesar de ter detestado Fúria, devo reconhecer que o talento do cara já começaaava a se mostrar.
Lançado somente em 1977 sob o pseudônimo de Richard Bachman, Fúria atualmente só pode ser lido no Brasil pela antologia Os livros de Bachman. Isso se você conseguir, porque o bagulho é tão raro que, no Estante Virtual, por exemplo, é vendido por quase MIL DINHEIROS:
Mas como você conseguiu, então, menina Manuela?
Tenho meus meios, eu diria.
Brinks. Apesar do PDF do livro ser vendido no Mercado Livre, se você jogar no Google richard+bachman+furia, acha facinho. Claro que essa versão disponível na rede nitidamente é uma tradução beeem meia-boca feita por alguém com tempo livre, o que prejudicou a história em vários momentos, mas não o suficiente pra me fazer consciente da minha nota final.
E por que o livro é raro? Aí a gente volta pro título desse post: TÁ PROIBIDÃO de ter novas cópias há décadas. Pelo próprio Stephen King. Fúria conta a história de Charles Decker, um adolescente-problema que, após ser repreendido pelo diretor da escola, desce direto para uma das salas de aula e mata a professora de álgebra, mantendo seus alunos de reféns. E um exemplar do livro foi encontrado na mochila de Michael Carneal, que, em 1997, atirou contra um grupo de oração de estudantes na Heath High School, no Kentucky.
Ouch. Pois é.
Stephen King + coisa proibida + romance de estreia foram suficientes pra eu querer dar uma conferida o mais depressa possível. Há tempos Fúria constava na minha listinha dos mais cobiçados; eu só não imaginava que minha cara iria quebrar em tantos pedaços. QUE EMBUSTE. Raramente fico puta da vida com livros, e quem leu minha crítica de Caixa de pássaros talvez se surpreenda pelo fato de ter dado mais estrelas pra ele do que pra Fúria. Acontece que Caixa de pássaros pelo menos me deixou com uma ânsia louca de chegar à última página, enquanto Fúria... bom, eu devo ter levado uns 3 anos pra conclui-lo </sarcasmo>. Isso porque ele tem menos de 200 páginas.
Fúria não é um livro de terror. Mas é um livro violento, escrito em um período que o próprio King descreve como de repressão sexual, revolta e muitas dorgas. Seu protagonista, que até a última página não consegui definir se era sociopata ou uma criatura fruto dos traumas que passou na infância, não me permitiu desenvolver nenhum nível de empatia. Ao contrário dos alunos que ele tranca em sala, já que nenhum aparece se importar em estar preso junto de um cara claramente perigoso, com um cadáver deitado no chão. O pessoal inclusive parece entender Charles Decker quando este começa a contar algumas passagens pesadas de sua vida, dando margem para que outros ali revelem seus podres por trás das cortinas fechadas da sala e longe de qualquer autoridade adulta. A partir daí, a história surpreende ao mostrar como as pessoas podem se comportar ou o que podem dizer quando não tem quase ninguém olhando, em uma situação completamente incomum, abrangendo experiências sexuais, ódio e desejos de violência contra os próprios pais. O único que parece não estar confortável é Ted Jones, o típico atleta popular da escola, que protagoniza uma das passagens mais nonsense de Fúria, me lembrando bastante O senhor das moscas.
O livro se passa basicamente dentro dessa sala de aula e, apesar de inicialmente ser interessante colocar os alunos num antro de confissões repulsivas, a coisa toda começa a ficar muito arrastada, chata e até boba. Não há uma atmosfera crescente de suspense e nem um desfecho impactante. Vale pela curiosidade, especialmente se você é fã do King e pretende ler todas as suas obras, mas já aviso que talvez você precise de paciência.