Bem, migos e migas, faltam poucos dias pra cerimônia do Oscar 2017 e eu tinha prometido o que há uns dois meses? Assistir a todos os indicados de todas as categorias. Se eu consegui? Claro que não. Mas admiro esse meu otimismo, que nunca morre, de fazer as mesmas promessas a cada ano (exceto começar academia; dessa vez deixei pra lá).
Pelo menos deu pra fechar todos os concorrentes das categorias principais. E, dessa vez, achei os indicados a Melhor Filme, num geral, num nível mais alto se compararmos com a categoria de 2016. Talvez eu estivesse com uma birra filha da mãe pela esnobada que deram em Carol. É provável. Mas estava difícil me encantar. Anyway, é a primeira vez em eras que vou conseguir assistir ao Oscar inteiro sem ficar preocupada em acordar cedo no dia seguinte por motivos de trabalho, YAY! Obrigada, Carnaval. Eu sabia que você ia servir pra alguma coisa um dia.
Lembram da polêmica do Oscar So White que rondou a cerimônia do ano passado? Outra coisa boa da edição de 2017 é que temos vários atores negros concorrendo aos prêmios, além de filmes com protagonismo negro (e que não contam histórias sobre escravos ou empregadas domésticas quase escravas), como Moonlight, Um limite entre nós e Estrelas além do tempo. Isso é essencial pra representatividade de qualquer minoria social. E, como Viola Davis disse na entrega de seu Emmy em 2015, como vão premiar negros por papéis que não deram a eles? Bom, ainda bem que as coisas evoluíram um pouco nesse meio tempo. Que continue nesse ritmo.
Abaixo, em ordem de preferência, os filmes da categoria principal do Oscar, do que gostei e do que não gostei e quem acho que vai ganhar
MELHOR FILME
A CHEGADA
Falei de A chegada neste post aqui, ainda creditando-o como um dos melhores filmes que assisti em 2016. Possui um total de zero chances de ganhar o prêmio, mas é fantástico. Inspirado no conto História da sua vida, de Ted Chiang, o longa acompanha Louise Banks, uma renomada linguista que é recrutada pelo exército americano para que consiga estabelecer um diálogo com alienígenas, depois que 12 naves pousam em pontos distintos do planeta.
Longe de ser uma ficção científica convencional, A chegada é melancólico, denso, bonito e uma grande parábola sobre as interações humana, experiências e necessidade da comunicação como meio de interligá-las.
LA LA LAND
Assisti La la land três vezes desde sua estreia, o filme que tem 95% de chances de levar o Oscar. Por que é fácil prever? Pra começar, ele é uma homenagem a Hollywood e a seus musicais clássicos, ou seja, uma forma delícia de inflar o ego da Academia. La la land foi indicado em 14 categorias ao todo (um recorde alcançado apenas por Titanic e A malvada), ganhou o Globo de Ouro, o BAFTA, vários prêmios de associações de críticos e consta em mais outras centenas de nomeações. Enfim, tá no papo. E a treta com o filme começou aí, com uma galera dizendo que ele não é isso tudo, que há musicais muito melhores (ué, e quem disse que não tem?), problematizando racismo (porque é um personagem branco querendo revolucionar o jazz, onde já se viu). Não que eu concorde com todas as indicações, mas os haters vão ter que engolir algumas lágrimas.
Pra quem viveu longe da mídia no último mês e não sabe, La la land é um musical adoravelmente fofo com uma atmosfera totalmente evocativa. Aliás, ela é o ponto forte do filme, e não a história em si. Motivo pelo qual, aliás, achei bizarra a indicação a Melhor Roteiro Original, mas OK THEN. Nele, Sebastian, um talentosos pianista que sonha em abrir seu clube de jazz, encontra Mia, uma aspirante a atriz que sonha em ter destaque na carreira. Juntos, um ajuda o outro a se encontrar.
MANCHESTER À BEIRA-MAR
Drama devastador do jeitinho que meu cérebro (ou seria coração?) problemático adora. A história acompanha os passos de Lee Chandler, um zelador solitário, infeliz e completamente introspectivo que é forçado a voltar para sua cidade natal após a morte de seu irmão, que deixou um filho adolescente sem amparo familiar. E digo forçado porque Lee definitivamente não quer voltar e encarar as pessoas que lá também ficaram, e a forma como descobrimos o porquê disso ao longo do filme é impactante.
Acho que se a atuação de Casey Affleck (irmão de Ben Affleck) na pele de Lee não fosse tão tocante, dificilmente Manchester à beira-mar seria o filme que é. Alguns dizem que ele apenas interpretou a si mesmo, mas né, não conheço o cara; só sei que é possível sentir toda a angústia, sofrimento e arrependimentos do personagens mesmo dentro de silêncios absolutos.
MOONLIGHT
Moonlight, como escrevi aqui, é considerado por muitos críticos como o melhor filme de 2016. E um dos que mais esperei pra assistir nos últimos tempos. Mas tive problemas com ele, se assim posso dizer, porque passei a gostar mesmo do conjunto da obra somente horas depois de terminá-lo, quando pude digerir, refletir e associar as cenas com suas cores, sentimentos e representações.
Moonlight é um estudo do personagem Chiron em três fases da sua vida: infância, adolescência e idade adulta. Tentando sobreviver ao bullying na escola e à violência da comunidade em que vive, o menino Chiron acaba encontrando amor e proteção no lugar mais improvável: no lar de um traficante chamado Juan, quem lhe ensina os maiores valores de sua vida. Adolescente e desconfortável em sua própria pele, Chiron continua tentando se encontrar e faz descobertas significativas que refletirão no homem que ele se torna, ainda em busca de sua identidade. Sem dúvidas, um "filme-poesia" que merece ser visto com atenção em todos os detalhes, principalmente na cor azul e no que ela representa ao longo da projeção.
UM LIMITE ENTRE NÓS
Dirigido e protagonizado por esse
Aparentemente, pegaram o roteiro da peça do jeitinho que está e tacaram no roteiro do filme sem adaptações nos diálogos, porque no primeiro ato eu confesso que fiquei cansada de ler tanta legenda. Os diálogos são, claro, a força da narrativa, mas era muita falazada pra pouca troca de ambiente. Depois as coisas começam a melhorar gradativamente, revelando uma história com um subtexto poderoso e amparada por atuações lindas do próprio Denzel e de Viola Davis, também conhecida como Deus.
ATÉ O ÚLTIMO HOMEM
Lembram de quando Mel Gibson deixou todo mundo desconfortável como diretor de A paixão de Cristo? Se você é fraco pra sangue, tripas e braços voando, melhor ficar longe do realismo desse filme também.
Até o último homem conta a história real de Desmond Doss, um médico de combate que se recusava a pegar em armas por princípios, desacreditado por seus companheiros e superiores, mas que ao fim se mostrou muito mais corajoso que muito soldado ao salvar dezenas de colegas feridos na Batalha de Okinawa, durante a Segunda Guerra Mundial. Não sou muito fã de filmes de guerra, mas esse aqui me surpreendeu positivamente. Apesar de alguns clichês e resoluções porcas de conflitos, fiquei impressionada como Mel Gibson conseguiu inserir o espectador (euzinha) dentro do campo de batalha, transformando o protagonista Desmond em um ser humano extraordinário em sua pequenez, fisicamente falando.
A QUALQUER CUSTO
Toby e Tanner são dois irmãos que vivem em West Texas e armam um plano pra se restabelecerem financeiramente após perderem a fazenda da família: assaltar bancos ao longo da estrada. Porém, não contavam com o fato de um velho policial prestes a se aposentar, mas muito sagaz, ficar na cola deles pelo caminho.
A qualquer custo pode parecer apenas OK pela sinopse, mas é um western moderno com uma fotografia massa, uma bela atuação de Jeff Bridges (que concorre ao Oscar também, aliás), ótima trilha sonora e uma crítica à situação econômica penosa que abrange a relação bancos x trabalhadores e a "dicotomia" cowboy x indígenas, representada especialmente pela dupla de policiais. Redondinho.
ESTRELAS ALÉM DO TEMPO
Esse virou o mais novo queridinho da galere, e de fato Estrelas além do tempo é bem fofo e importante: é emocionante perceber como meninas negras estão se espelhando nas protagonistas desse filme, baseadas em pessoas reais que contribuíram enormemente para a NASA durante a corrida espacial. Centrada em Katherine Johnson, uma brilhante matemática, a história retrata como ela e suas colegas Dorothy Vaughn e Mary Jackson foram fundamentais na operação do lançamento do astronauta John Glenn para a órbita da Terra.
Há quem tenha se incomodado com a vibe leve, otimista e bem humorada do filme, bem ao estilo Vidas cruzadas, que aborda temas pesados como o racismo e a misoginia. Mas meu maior problema com Estrelas além do tempo foram as construções esquemáticas de várias cenas, meio Oscar bait, com diálogos pouco naturais. Não estou dizendo que é um filme ruim, mas acho que faltou sutileza pro meu gosto. Me soa mais relevante como registro histórico do que como obra cinematográfica.
LION
O garotinho de Quem quer ser um milionário? cresceu e virou esse moço de considerável sex appeal que, em Lion, vive Saroo, um indiano adotado por um casal de australianos após se perder da família quando era criança em Calcutá. Depois de 25 sem esquecer seu passado, ele decide tentar reencontrar a mãe e os irmãos biológicos. Mais um filme baseado em fatos reais pra listinha do Oscar.
Assim como Estrelas além do tempo, Lion não é um filme ruim, mas que tem sérios problemas de ritmo. Enquanto fiquei totalmente envolvida com a primeira parte do longa, em que somos apresentados à jornada de Saroo na infância para voltar para casa (interpretado por um ator mirim maravilhoso que eu tive vontade de abraçar e cuidar a cada segundo que aparecia), as coisas começaram a esfriar quando a história se centra no tempo presente, com Saroo adulto na pele de Dev Patel. As cenas ficam arrastadas, um pouco desconexas, caminhando entre as tentativas do rapaz em descobrir sua verdadeira origem através do Google Earth (!) e sua relação inexplicavelmente conturbada com a namorada, Lucy, vivida por uma Rooney Mara subaproveitada. Um desperdício de talento.
MELHORES ATUAÇÕES
ATRIZ
Disputam:
Isabelle Huppert - Elle
Ruth Negga - Loving
Natalie Portman - Jackie
Emma Stone - La la land
Meryl Streep - Florence: Quem é Essa Mulher?
Quem eu gostaria que ganhasse: Isabelle Huppert
Quem acho que vai ganhar: Emma Stone
É, bicho. Por mais que eu ame Natalie Portman, a grávida de Jerusalém, como Jackie Kennedy, cheguei mesmo à conclusão de que Huppert foi a mais lacradora. Até o final do ano passado, os fãs estavam certos de que suas chances de levar a estatueta eram grandes (mesmo sendo uma francesa em terras hollywoodianas). Mas, quando Emma Stone começou a papar as premiações consideradas "termômetro do Oscar", o sonho foi se esvaecendo. Temos que reconhecer que ela fez um bom trabalho em La la land também.
Esnobadassa da vez: Amy Adams, por A chegada. Não me conformo.
Meryl Streep é sempre ótima e por isso a Academia deve tê-la indicado pela milésima vez mesmo sem assistir ao filme, mas acho que JÁ DEU.
ATRIZ COADJUVANTE
Disputam:
Viola Davis - Um limite entre nós
Naomie Harris - Moonlight
Nicole Kidman - Lion
Octavia Spencer - Estrelas além do tempo
Michelle Williams - Manchester à beira-mar
Quem eu gostaria que ganhasse: Viola Davis
Quem acho que vai ganhar: Viola Davis
Tirando Octavia Spencer, que não sei o que faz nessa lista pela sua atuação mediana em Estrelas além do tempo, todas estão ótimas. Fiquei tendenciosa pela Michelle Williams, que rouba a cena no pouco tempo em que aparece em Manchester à beira-mar, especialmente em um diálogo com Casey Affleck doloroso de presenciar. Mas Viola Davis foi a responsável por me emocionar em Um limite entre nós, como uma dona de casa resignada, que abandonou seus próprios desejos para viver a vida do homem que ama. Com direito a choro explosivo e meleca escorrendo do nariz (sdds Adèle Exarchopoulos).
ATOR
Disputam:
Casey Affleck - Manchester à beira-mar
Andrew Garfield - Até o último homem
Ryan Gosling - La la land
Viggo Mortensen - Capitão Fantástico
Denzel Washington - Um limite entre nós
Quem eu gostaria que ganhasse: Viggo Mortensen
Quem acho que vai ganhar: Denzel Washington
Viggo não tem chances. E nem é também o candidato mais forte. Mas adoraria ver Capitão Fantástico levando algum prêmio, principalmente por ter sido um filme tão adorado, mas previsivelmente ignorado pela Academia por abordar críticas escancaradas ao capitalismo, consumismo e religião. Casey Affleck era grande favorito, mas seu histórico de abuso sexual contra colegas de trabalho em 2010 levantaram revoltas nas redes sociais, que pediram boicote ao prêmio. Coincidência ou não, Denzel Washington levou o SAG Awards, principal termômetro da categoria, ou seja... suas chances de levar o Oscar também aumentaram.
Senti falta de: Joel Edgerton, por Loving. Achei descaso!
ATOR COADJUVANTE
Disputam:
Mahershala Ali - Moonlight
Jeff Bridges - A qualquer custo
Lucas Hedges - Manchester à beira-mar
Dev Patel - Lion: Uma jornada para casa
Michael Shannon - Animais noturnos
Quem eu gostaria que ganhasse: Mahershala Ali
Quem acho que vai ganhar: Mahershala Ali
O cara aparece por poucos minutos em Moonlight, mas é marcante. Um personagem que foge do estereótipo de traficante de drogas, cheio de humanização, desconstrução e sensibilidade. Mahershala ganhou o SAG Awards e, como se não bastasse ser o favorito há tempos, deve levar o Oscar.
Michael Shannon está ótimo em Animais Noturnos como um policial bem texano, contido, sem grandes expressões, mas que passa tudo o que o personagem sente através de olhos marejados ou de um movimento com a cabeça. Porém, o que o pessoal tava esperando é que indicassem Aaron Taylor-Johnson, quem interpreta um cara psicótico com todo o cuidado de não torná-lo caricato e a proeza de deixá-lo assustador e levemente cômico ao mesmo tempo. Aliás, Animais noturnos, na minha opinião, deveria estar na categoria de Melhor Filme. Filmão da pirra.
Trocaria: Lucas Hedges por George MacKay (Capitão Fantástico).
E vocês, quais os palpites pra cerimônia? Usem a caixa de comentários padrão ou do Facebook aí embaixo. Elas não mordem não, tá? :P