Foram 83 filmes assistidos em 2016 (será que em algum ano eu passo pelo menos dos 100? #juninha). Apesar de os premiados do ano começarem a aparecer só em meados de novembro e dezembro, nós, brasileiros, somos prejudicados porque a maioria deles estreia só a partir deste 2017 (como Moonlight, La la land, Manchester by the sea, Toni Erdmann e Eu, Daniel Blake).
Mas no ano passado e enterrado há apenas 1 dia, fui agraciada com produções sul-coreanas e brasileiras, com invasões zumbi, suspense, drama interracial, um olhar no centro do holocausto e muitos roteiros incríveis. :)
Seguindo a cultura desse bloguinho de anos anteriores, aí vão os 15 melhores filmes que assisti em 2016 (não importando seu ano de lançamento!):
15. ROGUE ONE: UMA HISTÓRIA STAR WARS, 2016, de Gareth Edwards | Trailer
Enquanto esperamos pelo oitavo episódio da saga, ABAIXA QUE É TIRO (literalmente) com essa história que se passa antes do Episódio IV: Uma Nova Esperança, que narra a missão de um grupo de rebeldes de roubar os planos da famosa Estrela da Morte, a fim de detectar seu ponto fraco e poder destruí-la.
Confesso que até a metade do filme eu não estava dando nada, achando a personagem da Felicity Jones não muito carismática e a química entre o grupo principal fraca, mas aí tudo começou a ficar substancialmente melhor. As últimas cenas são de tirar o fôlego, PRINCIPALMENTE a final. É um ótimo filme de guerra, e acho que o único de Star Wars que parece uma guerra real, talvez pelo forte apelo dramático e pelos sacrifícios e perdas inerentes a confrontos assim. Me senti no campo de batalha.
14. O CONVITE, 2015, de Karyn Kusama | Trailer
Um dos melhores suspenses do ano, na minha opinião. E se liga, porque tem na Netflix: a história é vivida por Will, que é convidado para um jantar na casa da ex-esposa, quem não vê há dois anos e está completamente diferente, junto de seu novo marido. Acompanhado da atual namorada, Will reencontra amigos antigos e abre algumas feridas deixadas pelo fim do relacionamento, ao mesmo tempo que passa a desconfiar de que algo muito, muito estranho está acontecendo na casa.
Atmosfera de tensão muito bem trabalhada, que coloca em cheque a sanidade do protagonista e a nossa própria percepção do que vemos em tela. Vale muito mais pela progressão do que pela revelação final, inclusive.
13. A BRUXA, 2015, de Robert Eggers | Trailer
MAMILOS POLÊMICOS. Esse filme mereceu um post só dele, visto que ele rendeu elogios da crítica, muito marketing e também muita gente insatisfeita no cinema, achando que ia se deparar com uma sequência interminável de jumpscares. Acontece que, para entender A bruxa, é preciso ir além do que os olhos veem (hihi) e enxergar o forte subtexto da trama que, claro, não vou revelar aqui.
No ano de 1600 e pouco, numa comunidade rural da Nova Inglaterra, uma família super-religiosa é expulsa por motivos não esclarecidos e é obrigada a se isolar próxima a uma floresta densa, vivendo de caça, plantação própria e muita oração ao nosso bom Senhor Jesus Cristo. Quando o caçula, o bebê Samuel, desaparece de forma bizarra, a paz na rotina daquelas pessoas também vai embora.
12. OLDBOY, 2003, de Park Chan-Wook
Se achas que só Tarantino faz da violência o cerne pra filmes de qualidade, estás enganado. Aqui, além de muita porradaria e sangue, temos reviravoltas absurdas, belas atuações e um roteiro bem trabalhado, que fizeram de Oldboy um importante filme sul-coreano a abraçar o sucesso em terras ocidentais. Mas quanto menos você souber dele, melhor. Não queremos estragar a experiência de ninguém, queremos?
A história segue os passos de Oh Dae-su, um sujeito que, após ser solto da cadeia depois de uma bebedeira no dia do aniversário de sua filha, é sequestrado e mantido em cativeiro dentro de um quarto por 15 anos. Sem saber quem fez isso, e muito menos o porquê, Oh Dae-su nutre um profundo sentimento de vingança e jura que irá desgraçar a vida de seu algoz assim que o descobrir.
11. EU VI O DIABO, 2010, de Akmareul Boatda | Trailer
MAIS VIOLÊNCIA? QUEREM MAIS? Q-QU-QUE-QUE-REM MAIS TUNTZ TUNTZ TUNTZ
-q
Imaginem uma briga de gato e rato elevada a níveis estratosféricos. A história é: a noiva de um agente secreto é morta por um serial killer (vivido pelo mesmo ator protagonista de Oldboy). Cego pela fúria, ele começa a investigar os possíveis suspeitos do crime, até finalmente identificar o culpado. Mas, ao invés de matá-lo, resolve pôr em prática uma terrível e lenta vingança.
O ritmo desse filme é alucinante, cheio de tomadas dinâmicas com muita ação, sangue, lutas e cólera, que contrastam com um final bastante melancólico, a meu ver. Filmaço.
10. INVASÃO ZUMBI, 2016, de Yeun Sang-Ho | Trailer
Mais um filme da terra do pessoal de zoinho puxado, Manu? Calma, que você vai ver mais.
Invasão zumbi, que estreou semana passada em vários cinemas do país, também ganhou post aqui no blog e conta a história de um gestor financeiro do tipo que dá mais importância pro trabalho do que pra família, completamente egoísta e distante, que vai levar a filhinha pra casa da ex-esposa pegando um trem de Seul para Busan. Segundos antes das portas dos vagões se fecharem, uma mulher infectada por vocês sabem o quê entra às pressas tentando fugir de vocês também sabem o quê, causando o velho e conhecido caos na Terra. O bom de Invasão zumbi (deteeeesssto os nomes que dão pra filmes no Brasil) é que o seu forte está nas relações entre os personagens, na carga dramática em si e no desenrolar das situações, não esperadas em um filme blockbuster do gênero.
9. O HOMEM NAS TREVAS, 2016, de Fede Alvarez | Trailer
Eita que é outro suspense nessa lista (e que também teve post exclusivo no blog)! "Money", Rocky e Alex são amigos e experts em assaltar casas de ricaços para roubar pertences valiosos (nunca dinheiro, ou a pena deles mudaria caso fossem pegos). Num belo dia, Money, o babacão mano das quebrada, fica sabendo que tem um idoso veterano de guerra morando sozinho em uma casa de uma rua isolada, e dono de uma boooa grana, que recebeu de indenização depois que sua filha foi morta em um atropelamento. Decididos a arriscarem levar dinheiro pela primeira vez em suas "carreiras", eles partem em missão sem imaginar que o senhor ex-soldado, apesar de aparentemente inofensivo por ser cego, é um filho da puta ninja capaz de saber sua localização só por te ouvir respirar.
O filme brinca com a revelação do caráter dos personagens, entrega um ritmo bem ágil e nos surpreende com suas reviravoltas, o que me deixou FISICAMENTE cansada ao final da sessão. E foi ótimo, claro; afinal, envolvimento com o que estou assistindo é o que mais conta na minha experiência como cinéfila :3
8. LOVING, 2016, de Jeff Nichols | Trailer
Esperei muito tempo pra assistir a esse filme, e ele não decepcionou. Delicado, sensível e chocante, ele retrata a história real de Richard e Mildred Loving, um casal que foi PRESO no final dos anos 1950 na Virgínia simplesmente por ser interracial. E pensar que esse absurdo aconteceu há pouco mais de 50 anos. Baseado em leis escravagistas guiadas principalmente pela religião, o argumento usado na época é basicamente repetido atualmente para justificar a proibição do casamento homossexual, o que me fez pensar constantemente sobre a sociedade podre em que vivemos há séculos.
Obrigados a se exilarem em outro estado, Richard e Mildred tentam construir sua família longe da terra que tanto os fazia felizes, enquanto as leis americanas progrediam a passos lentos para lhes dar o direito básico de viverem como marido e mulher. Pra mim, o destaque está nas atuações dos protagonistas, principalmente Ruth Negga, no papel de Mildred; é uma interpretação contida e introspectiva, mas cheia de significados e emoção. Acho que a veremos na corrida do Oscar.
7. ELLE, 2016, de Paul Verhoeven | Trailer
Taí outra atriz que arregaçou em 2016: Isabelle Huppert. Aqui, ela dá vida à Michèle, a executiva-chefe de uma empresa de videogames, a qual administra do mesmo jeito que administra sua vida amorosa e sentimental: com mão de ferro, organizando tudo de maneira precisa e ordenada. Sua rotina é quebrada quando ela é atacada por um desconhecido, dentro de sua própria casa. No entanto, ela decide não deixar que isso a abale.
Elle, na verdade, é MUITO mais do que a sinopse sugere. Não é uma história sobre estupro, nem sobre vingança ou as consequências de uma violência do gênero: o filme é um desmembramento de sua personagem principal, revelando facetas surpreendentes não só dela, mas dos outros personagens com quem ela convive, brincando com moralismos, ambiguidades e manipulações. Fica até difícil explicar! Era um dos favoritos para tentar o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, mas infelizmente Elle já está fora do shortlist divulgado.
6. CAPITÃO FANTÁSTICO, 2016, de Matt Ross | Trailer
Um filme que toca Sigur Rós do início a fim não tem como ser ruim.
Capitão Fantástico é uma produção completamente adorável que me conquistou de uma forma que eu não esperava. Na história, Ben é o pai de seis crianças, que decide fugir da civilização e criar os filhos nas florestas selvagens do Pacífico Norte. Ele passa os seus dias dando lições às crianças, ensinando-os a praticar esportes e a combater inimigos. Um dia, no entanto, Ben é forçado a deixar o local e retornar à vida na cidade. Começa o aprendizado do pai, que deve se acostumar à vida moderna.
Retratando de forma honesta e doce a relação entre os membros dessa família, de modo que acreditemos na veracidade de seus laços, Capitão Fantástico nos faz questionar até que ponto o estilo de vida imposto por Ben é um benefício ou não para seus filhos, enquanto faz uma crítica ao consumismo exagerado da sociedade, ao sistema rígido de ensino, à imposição das religiões, à política num geral e aos conceitos delicados que guiam nossas vidas e são repassados adiante sem que nos demos conta.
5. O FILHO DE SAUL, 2015, de Lázló Nemes | Trailer
O Filho de Saul não é "mais um filme sobre o holocausto". Favorito à Palma de Ouro e vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro do ano passado, ele nos mergulha nas cenas completamente angustiantes do campo de concentração de Auschwitz-Birkenau justamente por acompanhar o protagonista, Saul, praticamente em primeira pessoa. Os olhos deles são os nossos olhos que enxergam tudo o que acontece na rotina dos prisioneiros e dos soldados nazistas. Com a diferença que Saul é membro do Sonderkommando, o grupo de prisioneiros judeus isolados do acampamento e forçados a ajudar os nazistas na máquina de extermínio em grande escala.
Enquanto trabalhava em um dos crematórios, nosso personagem descobre o cadáver de um menino que toma por seu filho. Enquanto o Sonderkommando planeja uma rebelião, Saul decide, então, salvar o corpo da criança e oferecer um enterro apropriado. Uma missão no mínimo penosa.
4. AQUARIUS, 2016, de Kléber Mendonça Filho | Trailer
O que falar do candidato brasileiro que deveria estar concorrendo a uma vaga para disputar o Oscar desse ano?
Comentei de Aquarius aqui. O filme é um ótimo estudo de sua personagem principal, Clara, uma senhora bem bonitona vivida por Sônia Braga (que nasceu assim, cresceu assim e vai morrer assim, Gabriela), única moradora do edifício Aquarius. Sozinha, mas não solitária, Clara convive muito bem com seus dias na praia, saídas com as amigas pro forró e sua coleção de móveis e vinis - membros de uma família com quem compartilhou histórias desde que Aquarius era um prédio novo, há décadas. No entanto, uma construtora a está pressionando insistentemente para deixar seu apartamento, liberando caminho para construírem algo muito mais moderno no local. Mas não vai ser nada fácil fazer Clara mudar de ideia.
3. A JUVENTUDE, 2015, de Paolo Sorrentino | Trailer
Não sei o que pensar ainda de Paolo Sorrentino. A grande beleza, filme que abocanhou vários prêmios em 2013/2014, como a Palma e o Oscar de Estrangeiro, não fez nem cócegas no meu coração. No entanto, A juventude me arrebatou completamente. Acho até difícil escrever uma sinopse, então apanho a oficial: Fred e Mick, dois velhos amigos com quase 80 anos de idade cada, estão passando as férias em um luxuoso hotel. Fred é um compositor e maestro aposentado e Mick é um cineasta em atividade. Juntos, os dois passam a se recordar de suas paixões da infância e juventude. Enquanto Mick luta para finalizar o roteiro daquele que ele acha que será seu último grande filme, Fred não tem a mínima vontade de voltar à música. Entretanto, muita coisa pode mudar.
Assim como Elle, A juventude fala muito mais do que o resumo de sua história. Com um elenco de peso, o filme não só aborda de forma delicada a percepção sobre a velhice, como trata de vários temas de forma sutil: luto, passagem do tempo, a superficialidade das relações, família, o vazio mundo das celebridades, aprendizados. Tudo de forma sarcástica, inteligente, sensível e extremamente bonita (esteticamente falando, também), culminando em um dos finais de filme mais esplêndidos que já vi.
2. A CHEGADA, 2016, de Dennis Villeneuve | Trailer
Escrevi um post falando que esse filme seria um dos melhores de 2016, e não estava enganada. A mais recente produção do muso Denis Villeneuve conta a história de Louise Banks (vivida por uma incrível Amy Adams), uma renomada linguista que é recrutada pelo exército americano para que consiga estabelecer um diálogo com alienígenas, depois que 12 naves pousam em pontos distintos do planeta.
Pode parecer um simples filme sobre invasão extraterrestre, mas A chegada vai tão, mas tão além que fica complicado não dar spoilers na tentativa de dizer o quanto ele é denso, bonito e complexo. Apenas prepare-se para encarar conceitos sobre a subjetividade do tempo, da perda e como a língua pode ser uma força motora poderosa para unir pessoas e enfrentar o desconhecido. Dizem que é tudo o que Interestelar quis ser e não conseguiu. Pra quem não gostou de Interestelar, já é um motivo pra ver; pra quem gostou, como eu, digo que é tão bom quanto. Tive lindas experiências no cinema com ambos os filmes.
1. A CRIADA, 2016, de Park Chan-Wook | Trailer
Eu disse que ia ter mais filme sul-coreano aqui, né? Hihi.
Quando assisti A criada (ainda vai estrear no Brasil, mas você o encontra por aí como The handmaiden), há pouco mais de 2 meses, dei 4,5 estrelas. Agora, penso que fui injusta: deveria subir pra 5. Afinal, eu o elegi como o melhor do ano, não? A trama, recheada de plot twists DUCA, se passa na Coreia do Sul nos anos 1930, durante a ocupação japonesa. A jovem Sookee é contratada para trabalhar para uma herdeira nipônica, Hideko, que leva uma vida isolada ao lado do tio autoritário. Só que Sookee guarda um segredo: ela e um vigarista planejam desposar a herdeira, roubar sua fortuna e trancafiá-la em um sanatório. Tudo corre bem com o plano, até que Sookee se apaixona por ela.
Mano, não vou nem falar mais nada, porque é pecado saber demais. A criada é ousado, cheio de erotismo, com ótimas atuações, um puta roteiro (baseado no livro Fingersmith, de Sarah Waters), uma fotografia belíssima, direção de arte e figurinos impecáveis. É, sem dúvidas, o longa que mais me deixou completamente fascinada em todos os seus aspectos, nesses últimos meses. Se tiver a oportunidade, vá ao cinema conferir. Mas, por favor, não leve seus pais.