Quem me acompanha no Twitter e leu o texto sobre La la land sabe o quanto eu estava esperando pra assistir Moonlight. Ele é um desses filmes que crescem na nossa memória com o passar do tempo, e eu precisei de um tempo pra poder digerir e entender as suas nuances antes de vir aqui.
Considerado por boa parte da crítica mundial como o melhor filme de 2016, tem 98% de aprovação no Rotten Tomatoes, 99 no Metacritic, atuações aclamadas, conquistou o Globo de Ouro de Melhor Drama deste ano e consta como um dos favoritos ao Oscar. Moonlight é uma jornada bastante intimista de seu protagonista, Chiron, dividida em três fases de sua vida – infância, adolescência e idade adulta –, em que ele luta para construir sua identidade e sexualidade em uma sociedade extremamente machista e violenta.
"Quem é você, Chiron?"Mas há espaço para a sensibilidade e para o amor nos lugares mais surpreendentes, em Moonlight. Em meio à opressão, enquanto tenta constantemente responder para si mesmo essa pergunta, Chiron tenta se desviar do bullying da escola e da negligência da mãe drogada a partir do momento em que conhece Juan, um traficante que torna-se seu tutor e quem lhe passa as mais belas lições da sua vida. Adolescente e incapaz de se sentir confortável em sua própria pele, Chiron realiza algumas descobertas que serão determinantes para sua transição para a fase adulta: um cara que sabe vestir sua armadura para sobreviver aos golpes do mundo, mas que mantém a mesma tristeza no olhar do garoto que foi um dia.
Moonlight é um filme de silêncios: as expressões faciais e corporais dos personagens conseguem falar mais do que várias linhas de diálogos. A dor da solidão foi lindamente descrita com aquilo que mais a caracteriza – ausências. E, socialmente falando, Moonlight também é um filme importante. Eu, pelo menos, não lembro quando assisti uma obra focada exclusivamente em personagens negros, periféricos e com um protagonista gay tão em voga na mídia especializada; uma oportunidade incrível de representatividade onde Chirons do mundo todo podem se identificar. (Aliás, se o termômetro da crítica estiver correto, o Oscar neste ano trará pelo menos quatro filmes com personagens principais negros – Moonlight, Cercas, Loving e Estrelas além do tempo. Parece que a campanha #OscarSoWhite fez efeito.)
Por fim, Moonlight é um filme-poesia. Por mais que o terceiro ato tenha pedido um pouco do ritmo e não tenha me arrebatado como eu gostaria (minha sina é pagar língua), ele se segura como uma obra forte, repleta de sensibilidade e interpretações marcantes, já lembradas nas premiações, com uma cena final tão sutil quanto tocante. Preste atenção nos movimentos de câmera e principalmente na cor azul, presente em inúmeros momentos e elemento importante para contar a história: isso certamente vai enriquecer sua experiência cinéfila.
"Black boys in the moonlight are blue."