Não sou muito chegada em romances, mas acho que posso confirmar com alguma segurança que esse livro de 317 páginas da britânica Jojo Moyes é o melhor que peguei em tempos. Melhor que Um dia e P.S: eu te amo, inclusive, que eu julgava serem insuperáveis na conjuntura da época.
Li Como eu era antes de você com a fúria e a paixão de quem come batatas chips assistindo à Netflix num domingo chuvoso. A caminho do ponto de ônibus, dentro do ônibus, no elevador, na rua, na fazenda e, se eu tivesse uma casinha de sapê, nem ela teria escapado. Ontem, finalmente cheguei ao último parágrafo em meio a lágrimas e a uma certeza sobre quem eu era e o que restou de mim depois de concluir a história de Lou e Will:
Fotos reais
Louisa Clark é uma excêntrica moça de 26 anos que está acostumada a viver sua vidinha sem grandes emoções em uma pacata cidade da Inglaterra. Depois que a cafeteria onde foi garçonete por anos é fechada, ela se vê obrigada a arranjar um emprego novo o mais rápido possível. Entre entrevistas e experiências frustradas, ela enfim é contratada pela rica família Traynor como cuidadora de Will, um jovem que teve sua vida movimentada e enérgica interrompida após um acidente que o deixou tetraplégico.
Para o bem de você que quer ler o livro (espero), vou comentar apenas o necessário; qualquer opinião mais aprofundada sobre a história pode ser considerada spoiler.
Como eu era antes de você é narrado em primeira pessoa, o que é suficiente pra te fazer se apaixonar pela Lou no primeiro capítulo. Com ares de comédia romântica, a narrativa é fluida e leve mesmo que trate, em vários momentos, do quão sofrida e pesarosa é a rotina de uma pessoa dependente que precisa de cuidados 24h por dia. Lou é divertida, ingênua e espontânea – talvez uma Amèlie Poulain muito mais desajeitada e falante –, e sua família é engraçada e superfofa bem num estilo suburbano, fazendo uma contraposição perfeita sobre os Traynor. Elegantes e sóbrios, talvez fossem incapazes de oferecer a simplicidade que há de sobra em Lou para poder ajudar Will a superar os males de sua doença, o que o ajudou a tornar-se um homem amargurado e infeliz.
Tudo funciona nesse livro. O início da interação gato-e-rato entre os dois é bem humorada e colocada de forma que, aos poucos e naturalmente, o convívio ganhe contornos mais íntimos e emotivos. Mesmo que Will nunca perca a chance de fazer piadas ácidas e comentários um tanto cruéis, o personagem é absolutamente carismático – um ponto importantíssimo para que o leitor queira seu bem até o final, independente se questões morais o atinjam ao longo da história. A parceria entre Lou e Will, pra mim, é o cerne de Como eu era antes de você – algo construído com boas doses de humanidade, veracidade e CALOR, o que não vemos em casais ~consagrados~ por adolescentes, como Bella e Edward, de Crepúsculo (adoro alfinetar hihihi).
Quando fechei o livro, percebi como sem ser explícito ele nos induz a refletir sobre direito x obrigação de viver, o que é qualidade de vida, o que significa amar verdadeiramente, desapego, esperança e sobre o poder de alguém em nos transformar. É enternecedor, por exemplo, que Jojo Moyes tenha colocado como namorado de Lou um cara viciado em músculos e treinamentos aeróbicos, com o corpo em perfeito funcionamento, em um paralelo irônico com a condição de Will. De fato, criar conexões profundas com alguém independe de aparências, já que é na troca de ideias e experiências que elas crescem raízes.
"De vez em quando, eu me pegava olhando as mãos bronzeadas dele, aqueles dedos de formato quadrado, a poucos centímetros dos meus, e me lembrava de como era a sensação dos nossos dedos entrelaçados – o calor, ilusão de, mesmo paralisados, terem uma espécie de força – e um nó se formava na minha garganta até eu achar que mal conseguia respirar (…)"
"–– Ei, Clark. Conte alguma coisa boa.
(…) contei a história de duas pessoas. Duas pessoas que não deviam se encontrar e que não gostaram muito um do outro quando se conheceram, mas que descobriram que eram as duas únicas pessoas no mundo que podiam se entender."
Como eu era antes de você virou filme (aliás, foi descobrindo ele que fui atrás do livro) e deve estrear em abril ou maio, se não me engano, com os lindos Sam Claflin e Emilia Clarke (amada Khaleesi). Tem dois trailers disponíveis no Youtube mas, sério mesmo, se você pretende ler primeiro, não assista a NENHUM. Grata. Digo, de nada.