21 fevereiro 2016

Oscar 2016: apostas, injustiças e mais polêmicas

postado por Manu Negri


No final do ano passado, escrevi um post falando sobre como funcionava o processo de votação da Academia no Oscar e quais eram as apostas mais fortes para os candidatos da premiação neste ano. Bom, eu não fui tão ruim assim, vai. Errei um tantinho, mas acertei um tantão também. O mais importante é que foi bem divertido acompanhar a mídia especializada em 2015 – coisa que pretendo repetir neste ano –, poder arriscar chutar vencedores com um cadim mais de confiança e conhecer novos filmes.

Pouco depois do anúncio oficial dos indicados, a polêmica do Oscar começou E É DISSO QUE O POVO GOSHTADe janeiro pra cá, você ouviu falar sobre a expressão “Oscar so white” (“Oscar tão branco”)? As redes sociais, principalmente o Twitter, pipocaram com essa hashtag, endossada por declarações de artistas (entre eles, Spike Lee e Will Smith) que fariam boicote à cerimônia, que vai ao ar no dia 28 de fevereiro. O argumento é a ausência completa de negros nas categorias, justificada por um suposto racismo dos membros da Academia. Calma, calma: quando digo suposto, não estou querendo tirar o deles da reta não, porque a Academia é sim conservadora e cheia de mimimi. Acontece que a ausência de diversidade não é culpa exclusivamente do Oscar.

A cerimônia de premiação começou em 1929, mas a primeira indicação a um artista negro só veio 10 anos depois. De lá pra cá somamos 87 edições do Oscar, entre as quais apenas 15 atores negros levaram a estatueta. Realmente, são números chocantes. Mas pode crer que o buraco é bem, bem mais embaixo. Afinal, a escolha dos indicados se dá a partir das campanhas de marketing dos filmes que estão querendo concorrer às vagas. Quanto mais buzz, mais chances de entrar na corrida. Dentro deste contexto, portanto, cabe a pergunta: desses filmes que ganham festivais e premiações de críticos - ou seja, mais passíveis de também concorrerem ao Oscar -, quantos possuem atores, diretores ou roteiristas negros? O fato é que a verdade que justifica a polêmica do #Oscarsowhite dói ainda mais quando a gente percebe que o problema da diversidade começa justamente aí, bem antes, nesta falta de oferta de bons papéis a minorias. E se falta representatividade nos filmes, obviamente faltará também no Oscar, que nada mais é do que um reflexo do que acontece na indústria do cinema.

"Você não pode ganhar um Emmy por papéis que simplesmente não existem"
Viola Davis apontou essa questão no seu discurso do Emmy 2015 como a primeira atriz negra a ganhar a premiação por Melhor Atriz Dramática (veja o vídeo aqui). No mês passado, ela deu declarações sensatas sobre essa polêmica do Oscar, dizendo que ele não é o problema, e sim o sintoma de uma doença muito maior. Segundo Viola, é preciso se perguntar “quantos filmes de negros estão sendo produzidos anualmente? Como eles são distribuídos? Os filmes produzidos estão com times de produtores pensando ‘fora da caixa’ em termos de como escolher o elenco? Você pode escolher uma mulher negra para aquele papel? Você pode escolher um negro para aquele papel?”. Apesar da constatação de que esse é um problema que tem início na indústria do cinema  e não no Oscar em si  a abordagem (e reflexão) sobre esses pontos durante o período do Oscar é algo válido, já que, como se sabe, trata-se da premiação do cinema com maior visibilidade no mundo. Ironicamente, neste ano o apresentador da cerimônia será Chris Rock, e a expectativa é que ele mande altas alfinetadas sobre isso tudo. Quem sabe as coisas em Hollywood comecem a mudar.

Me aguardem, seus puto
Afinal, representatividade importa, SIM. Basta ter um mínimo de empatia pra entender isso. Star Wars – O despertar da Força é um exemplo recente do quanto colocar uma mulher e um negro como personagens principais de um filme teve impacto positivo sobre esses públicos e um enorme peso sobre suas autoestimas. A palavra-chave é identificação. Queremos nos identificar com alguém nos cargos de liderança, nas propagandas e nas histórias que nos contam no cinema, mas, no caso de minorias políticas, nem sempre isso acontece.

No Oscar do ano passado, Patricia Arquette venceu na categoria Melhor Atriz Coadjuvante pelo filme Boyhood e aproveitou para, em seu discurso, falar sobre igualdade salarial e direitos das mulheres. "A todas que deram à luz neste país, a todas que pagam impostos, nós temos que lutar por direitos iguais para todos. Está na hora de termos salários iguais de uma vez por todas e direitos iguais para as mulheres nos Estados Unidos". J-Lo e rainha Meryl Streep foram à loucura e bateram palmas até rasgar a mão.


Mulheres e sua falta de representatividade no cinema também são alvos constantes de debate. Não só apenas em relação à igualdade no trabalho, mas sobre a disparidade entre protagonistas masculinos e femininos nos filmes. Aparentemente, a indústria norte-americana tem se apoiado há anos em uma regra mentirosa  a de que mulheres vão menos ao cinema  para justificar o desequilíbrio na distribuição de papéis. Pra se ter uma ideia, entre os 100 filmes de maior bilheteria de cada ano nos EUA, uma média de apenas 30% de todos os personagens com fala são mulheres*. Filme com mais mulher do que homem no elenco, então, nem se fala!

Melissa Silverstein, criadora do site Women and Hollywood, deu uma entrevista para o site Último Segundo e disse que foi criada a percepção de que apenas as histórias masculinas são universais. "A ideia é: mulheres vão ver filmes sobre homens, mas homens não vão ver filmes sobre mulheres.” Mesmo que não seja uma verdade absoluta, certamente acontece: é muito fácil imaginar um homem no cinema escolhendo um filme com protagonista homem, sob o argumento de que aqueles com mulheres não têm histórias “feitas” pra ele. Talvez os membros da Academia, um grupo majoritariamente masculino e mais velho, pense o mesmo.

De 2015 pra cá, depois que o discurso de Arquette colocou o feminismo em Hollywood em voga, o assunto veio à tona com certa frequência. O trailer do filme As sufragistas – que conta o início da luta do movimento feminista –, quando divulgado, borbulhou na internet e parecia que tinha tudo pra bombar no Oscar. Com exceção de uma torcida para que Carey Mulligan, a protagonista, disputasse a estatueta de Melhor Atriz, o buzz do filme deu uma murchada até a corrida de premiações.


Entre os indicados a Melhor Filme este ano, temos Mad Max e sua protagonista mulher, Imperatriz Furiosa (vivida por Charlize Theron). Em Brooklyn, Saoirse Ronan é uma moça irlandesa tentando a vida na América. No entanto, é um tanto quanto estranho que neste contexto o Oscar tenha feito tamanha vista grossa justamente para um filme que possui apenas personagens femininas centrais: Carol.

Considerando que é um dos filme com mais indicações na história do Oscar a não entrar em Melhor Filme e Diretor, acho válido o debate a respeito (eu e muitos críticos de cinema). As suposições são muitas: desde típico machismo – “o Oscar aplaude filmes sobre mulheres, mas prefere indicar e premiar filmes que tenham personagens homens relevantes” – até mesmo preconceito; daí a existência do #Oscarsostraight. É, talvez Carol seja muito gay pra eles: roteirizado por uma mulher lésbica com base em um livro escrito por uma lésbica e dirigido por um homem gay, contanto a história de amor e desejo entre duas mulheres nos anos 1950, uma época em que a palavra "lésbica" mal existia no dicionário. Talvez uma história muito restrita para a Academia considerar "universal" o suficiente para o público espectador médio apreciar. Provavelmente – para o Oscar – esse público prefere assistir violência a uma história de amor repleta de subjetividades.

Vamos deixar de lado o fato de Carol ser o meu favorito dentre os participantes da premiação de 2016. Mas parece que o Oscar tende a reconhecer um único tipo de história: aquele em que personagens LGBT sofrem e/ou são sacrificados pelos seus pecados. Vamos relembrar Filadélfia, Meninos não choram, As horas, Clube de Compras Dallas e O segredo de Brokeback Mountain – que surpreendentemente perdeu pra Crash na época, inclusive. Agora, com Carol, finalmente vemos algo quase inovador: um filme superaclamado que traz pessoas do mesmo gênero se apaixonando e não precisando se desculpar por sua felicidade.

A categoria de Melhor Filme do Oscar tem 10 vagas, mas só 8 foram ocupadas. Ainda havia duas, sabem? Isso que é meio bizarro. Como seria impossível ignorar totalmente Carol – o filme mais bem avaliado de 2015 segundo o Metacritic, com quase 200 indicações a prêmios ESTOU SENDO PASSIONAL –, a Academia ao menos o colocou pra concorrer a Melhor Atriz, Melhor Atriz Coadjuvante, Melhor Fotografia, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Trilha Sonora e Melhor Figurino. Mas vai perder em todas.

Rooney Mara, estrela de Carol, fala sobre #Oscarsostraight em evento do Oscar

VAMOS ÀS APOSTAS
(das principais categorias)

MELHOR FILME


Pra quem torço: dentre os indicados, aquele eu mais gostei foi, de longe, Mad Max – Estrada da fúria. Logo atrás vem Spotlight. Perdido em Marte é muito legal e divertido, mas nunca o considerei um dos melhores filmes do ano, nem segundo a linha do Oscar. O regresso é extremamente bem feito, mas achei a história um saco; Brooklyn é fofíssimo; O quarto de Jack é correto (continuo preferindo o livro), assim como Ponte dos Espiões, e A grande aposta faz o impossível pra construir um filme sobre mercado financeiro imobiliário para que nós, mortais, possamos compreender (não consegue muito).

Quem eu acho que vai ganhar: O regresso. Mas vai que Mad Max...


MELHOR DIRETOR


Ridley Scott nunca ganhou nenhum Oscar pelo seu trabalho, e não será desta vez que Perdido em Marte vai ajudá-lo.

Pra quem torço: George Miller. Que também nunca ganhou (não como Melhor Diretor) e faz um trabalho duca em Mad Max.

Quem eu acho que vai ganhar: tô dividida. Acho difícil darem um segundo Oscar pro Iñárritu pelo segundo ano consecutivo, mas não impossível. Ou vence ele, ou vence Miller.



MELHOR ATOR 


É, meus amigos. Taí Matt Damon indicado. E taí Walter White dando as caras no Oscar ♥.
Se todo mundo apostava que Eddie Redmayne iria ganhar mais essa, faces foram quebradas. Achei a atuação bem marromenas e superficial; não vi ali uma mulher transgênero se descobrindo, e sim um cara imitando trejeitos femininos.

Pra quem torço: Leonardo DiCaprio.

Quem eu acho que vai ganhar: Leonardo DiCaprio. Finally.


MELHOR ATRIZ


Tá certo que Jennifer Lawrence é a namoradinha de Hollywood, mas mesmo assim não faço ideia do porquê ela estar figurando nessa lista. Ela é uma boa atriz, mas sua interpretação em Joy – um filme péssimo – está apenas OK, nada que merecesse prêmios. Na minha opinião, Carey Mulligan está bem melhor. Mozão Cate Blanchett está arregaçando (sim, eu sei que toda a minha torcida pra Carol será em vão), Brie Larson está ótima (mesmo que eu tenha me emocionado muito mais com o garotinho Jacob Tremblay), Saoirse Ronan oferece uma atuação contida e poderosa ao mesmo tempo e Charlotte Rampling nada menos que magnífica. É, tirando J-Law, tudo justo.

Pra quem torço: Cate Blanchett.

Quem eu acho que vai ganhar: Brie Larson.


MELHOR ATOR COADJUVANTE


Pra quem torço: com exceção do Mark Ruffalo – que, ahn, bem, nhé, qualquer um que ganhar aqui parece bom. Mas estou torcendo pro Stallone não só porque ele está ótimo em Creed, mas pelo valor sentimental ligado à Rocky Balboa e o fim de suas continuações.

Quem eu acho que vai ganhar: Stallone (pelos mesmos motivos acima).


MELHOR ATRIZ COADJUVANTE


Rachel McAdams? Sério? Pfff.

Pra quem torço: Rooney Mara e Alicia Vikander, quem roubou todas as cenas de A garota dinamarquesa.

Quem eu acho que vai ganhar: Alicia Vikander. Talvez Kate Winslet?


MELHOR ROTEIRO ORIGINAL

CONCORREM: Ponte dos Espiões, Ex Machina, Divertida Mente, Spotlight e Straight Outta Compton.

Pra quem torço: Divertida Mente.

Quem eu acho que vai ganhar: Spotlight.


MELHOR ROTEIRO ADAPTADO

CONCORREM: A grande aposta, Brooklyn, Carol, Perdido em Marte e O quarto de Jack.

Pra quem torço: Carol (bom, só li os livros Carol e Quarto, pra julgar).

Quem eu acho que vai ganhar: A grande aposta.


MELHOR ANIMAÇÃO

CONCORREM: Anomalisa, Divertida Mente, O menino e o mundo, Shaun - O carneiro e When Marnie was there.

Pra quem torço: eu só assisti a Anomalisa, Divertida Mente e o brasileiro O menino e o mundo. Todos são ótimos e muito diferentes entre si. Torço pra Divertida Mente, que é o meu favorito.

Quem eu acho que vai ganhar: Divertida Mente.


MELHOR FOTOGRAFIA

CONCORREM: Carol, Os 8 odiados, Mad Max, O regresso e Sicario. .

Pra quem torço: todos os concorrentes estão fodas. Mas torço pra Carol. Dã.

Quem eu acho que vai ganhar: O regresso (e lá vai o diretor de fotografia do filme ganhar o prêmio sei lá, pela terceira vez seguida?).


:B
Não vou incluir as demais categorias porque não assisti a nenhum documentário, nem curtas live e de animação, não ouvi todas as trilhas e nem todas as canções originais. É, eu achei que ia dar pra abraçar TODAS as categorias dessa vez, mas quem sabe no ano que vem?

E vocês, o que acharam disso tudo – das polêmicas, dos indicados, dos esnobados e quais são as suas torcidas? Sintam-se à vontade pra comentar aqui embaixo :D. Pra quem tem Twitter: nos vemos dia 28, data da cerimônia do Oscar, pra comentar bastante e compartilhar muita piadinha.



*Fonte: “Gender Equality in 500 Popular Films”, estudo da University of Southern California


0 comments:

Postar um comentário