No final do ano passado, escrevi um post falando sobre como funcionava o processo de votação da Academia no Oscar e quais eram as apostas mais fortes para os candidatos da premiação neste ano. Bom, eu não fui tão ruim assim, vai. Errei um tantinho, mas acertei um tantão também. O mais importante é que foi bem divertido acompanhar a mídia especializada em 2015 – coisa que pretendo repetir neste ano –, poder arriscar chutar vencedores com um cadim mais de confiança e conhecer novos filmes.
Pouco depois do anúncio oficial dos indicados, a polêmica do Oscar começou
A cerimônia de premiação começou em 1929, mas a primeira indicação a um artista negro só veio 10 anos depois. De lá pra cá somamos 87 edições do Oscar, entre as quais apenas 15 atores negros levaram a estatueta. Realmente, são números chocantes. Mas pode crer que o buraco é bem, bem mais embaixo. Afinal, a escolha dos indicados se dá a partir das campanhas de marketing dos filmes que estão querendo concorrer às vagas. Quanto mais buzz, mais chances de entrar na corrida. Dentro deste contexto, portanto, cabe a pergunta: desses filmes que ganham festivais e premiações de críticos - ou seja, mais passíveis de também concorrerem ao Oscar -, quantos possuem atores, diretores ou roteiristas negros? O fato é que a verdade que justifica a polêmica do #Oscarsowhite dói ainda mais quando a gente percebe que o problema da diversidade começa justamente aí, bem antes, nesta falta de oferta de bons papéis a minorias. E se falta representatividade nos filmes, obviamente faltará também no Oscar, que nada mais é do que um reflexo do que acontece na indústria do cinema.
"Você não pode ganhar um Emmy por papéis que simplesmente não existem" |
Me aguardem, seus puto |
No Oscar do ano passado, Patricia Arquette venceu na categoria Melhor Atriz Coadjuvante pelo filme Boyhood e aproveitou para, em seu discurso, falar sobre igualdade salarial e direitos das mulheres. "A todas que deram à luz neste país, a todas que pagam impostos, nós temos que lutar por direitos iguais para todos. Está na hora de termos salários iguais de uma vez por todas e direitos iguais para as mulheres nos Estados Unidos". J-Lo e rainha Meryl Streep foram à loucura e bateram palmas até rasgar a mão.
Mulheres e sua falta de representatividade no cinema também são alvos constantes de debate. Não só apenas em relação à igualdade no trabalho, mas sobre a disparidade entre protagonistas masculinos e femininos nos filmes. Aparentemente, a indústria norte-americana tem se apoiado há anos em uma regra mentirosa – a de que mulheres vão menos ao cinema – para justificar o desequilíbrio na distribuição de papéis. Pra se ter uma ideia, entre os 100 filmes de maior bilheteria de cada ano nos EUA, uma média de apenas 30% de todos os personagens com fala são mulheres*. Filme com mais mulher do que homem no elenco, então, nem se fala!
Melissa Silverstein, criadora do site Women and Hollywood, deu uma entrevista para o site Último Segundo e disse que foi criada a percepção de que apenas as histórias masculinas são universais. "A ideia é: mulheres vão ver filmes sobre homens, mas homens não vão ver filmes sobre mulheres.” Mesmo que não seja uma verdade absoluta, certamente acontece: é muito fácil imaginar um homem no cinema escolhendo um filme com protagonista homem, sob o argumento de que aqueles com mulheres não têm histórias “feitas” pra ele. Talvez os membros da Academia, um grupo majoritariamente masculino e mais velho, pense o mesmo.
De 2015 pra cá, depois que o discurso de Arquette colocou o feminismo em Hollywood em voga, o assunto veio à tona com certa frequência. O trailer do filme As sufragistas – que conta o início da luta do movimento feminista –, quando divulgado, borbulhou na internet e parecia que tinha tudo pra bombar no Oscar. Com exceção de uma torcida para que Carey Mulligan, a protagonista, disputasse a estatueta de Melhor Atriz, o buzz do filme deu uma murchada até a corrida de premiações.
Entre os indicados a Melhor Filme este ano, temos Mad Max e sua protagonista mulher, Imperatriz Furiosa (vivida por Charlize Theron). Em Brooklyn, Saoirse Ronan é uma moça irlandesa tentando a vida na América. No entanto, é um tanto quanto estranho que neste contexto o Oscar tenha feito tamanha vista grossa justamente para um filme que possui apenas personagens femininas centrais: Carol.
Considerando que é um dos filme com mais indicações na história do Oscar a não entrar em Melhor Filme e Diretor, acho válido o debate a respeito (eu e muitos críticos de cinema). As suposições são muitas: desde típico machismo – “o Oscar aplaude filmes sobre mulheres, mas prefere indicar e premiar filmes que tenham personagens homens relevantes” – até mesmo preconceito; daí a existência do #Oscarsostraight. É, talvez Carol seja muito gay pra eles: roteirizado por uma mulher lésbica com base em um livro escrito por uma lésbica e dirigido por um homem gay, contanto a história de amor e desejo entre duas mulheres nos anos 1950, uma época em que a palavra "lésbica" mal existia no dicionário. Talvez uma história muito restrita para a Academia considerar "universal" o suficiente para o público espectador médio apreciar. Provavelmente – para o Oscar – esse público prefere assistir violência a uma história de amor repleta de subjetividades.
Vamos deixar de lado o fato de Carol ser o meu favorito dentre os participantes da premiação de 2016. Mas parece que o Oscar tende a reconhecer um único tipo de história: aquele em que personagens LGBT sofrem e/ou são sacrificados pelos seus pecados. Vamos relembrar Filadélfia, Meninos não choram, As horas, Clube de Compras Dallas e O segredo de Brokeback Mountain – que surpreendentemente perdeu pra Crash na época, inclusive. Agora, com Carol, finalmente vemos algo quase inovador: um filme superaclamado que traz pessoas do mesmo gênero se apaixonando e não precisando se desculpar por sua felicidade.
A categoria de Melhor Filme do Oscar tem 10 vagas, mas só 8 foram ocupadas. Ainda havia duas, sabem? Isso que é meio bizarro. Como seria impossível ignorar totalmente Carol – o filme mais bem avaliado de 2015 segundo o Metacritic, com quase 200 indicações a prêmios
Rooney Mara, estrela de Carol, fala sobre #Oscarsostraight em evento do Oscar |
VAMOS ÀS APOSTAS
(das principais categorias)
MELHOR FILMEPra quem torço: dentre os indicados, aquele eu mais gostei foi, de longe, Mad Max – Estrada da fúria. Logo atrás vem Spotlight. Perdido em Marte é muito legal e divertido, mas nunca o considerei um dos melhores filmes do ano, nem segundo a linha do Oscar. O regresso é extremamente bem feito, mas achei a história um saco; Brooklyn é fofíssimo; O quarto de Jack é correto (continuo preferindo o livro), assim como Ponte dos Espiões, e A grande aposta faz o impossível pra construir um filme sobre mercado financeiro imobiliário para que nós, mortais, possamos compreender (não consegue muito).
Quem eu acho que vai ganhar: O regresso. Mas vai que Mad Max...
MELHOR DIRETOR
Ridley Scott nunca ganhou nenhum Oscar pelo seu trabalho, e não será desta vez que Perdido em Marte vai ajudá-lo.
Pra quem torço: George Miller. Que também nunca ganhou (não como Melhor Diretor) e faz um trabalho duca em Mad Max.
Quem eu acho que vai ganhar: tô dividida. Acho difícil darem um segundo Oscar pro Iñárritu pelo segundo ano consecutivo, mas não impossível. Ou vence ele, ou vence Miller.
MELHOR ATOR
É, meus amigos. Taí Matt Damon indicado. E taí Walter White dando as caras no Oscar ♥.
Se todo mundo apostava que Eddie Redmayne iria ganhar mais essa, faces foram quebradas. Achei a atuação bem marromenas e superficial; não vi ali uma mulher transgênero se descobrindo, e sim um cara imitando trejeitos femininos.
Pra quem torço: Leonardo DiCaprio.
Quem eu acho que vai ganhar: Leonardo DiCaprio. Finally.
MELHOR ATRIZ
Tá certo que Jennifer Lawrence é a namoradinha de Hollywood, mas mesmo assim não faço ideia do porquê ela estar figurando nessa lista. Ela é uma boa atriz, mas sua interpretação em Joy – um filme péssimo – está apenas OK, nada que merecesse prêmios. Na minha opinião, Carey Mulligan está bem melhor. Mozão Cate Blanchett está arregaçando (sim, eu sei que toda a minha torcida pra Carol será em vão), Brie Larson está ótima (mesmo que eu tenha me emocionado muito mais com o garotinho Jacob Tremblay), Saoirse Ronan oferece uma atuação contida e poderosa ao mesmo tempo e Charlotte Rampling nada menos que magnífica. É, tirando J-Law, tudo justo.
Pra quem torço: Cate Blanchett.
Quem eu acho que vai ganhar: Brie Larson.
MELHOR ATOR COADJUVANTE
Pra quem torço: com exceção do Mark Ruffalo – que, ahn, bem, nhé, qualquer um que ganhar aqui parece bom. Mas estou torcendo pro Stallone não só porque ele está ótimo em Creed, mas pelo valor sentimental ligado à Rocky Balboa e o fim de suas continuações.
Quem eu acho que vai ganhar: Stallone (pelos mesmos motivos acima).
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE
Rachel McAdams? Sério? Pfff.
Pra quem torço: Rooney Mara e Alicia Vikander, quem roubou todas as cenas de A garota dinamarquesa.
Quem eu acho que vai ganhar: Alicia Vikander. Talvez Kate Winslet?
MELHOR ROTEIRO ORIGINAL
CONCORREM: Ponte dos Espiões, Ex Machina, Divertida Mente, Spotlight e Straight Outta Compton.
Pra quem torço: Divertida Mente.
Quem eu acho que vai ganhar: Spotlight.
MELHOR ROTEIRO ADAPTADO
CONCORREM: A grande aposta, Brooklyn, Carol, Perdido em Marte e O quarto de Jack.
Pra quem torço: Carol (bom, só li os livros Carol e Quarto, pra julgar).
Quem eu acho que vai ganhar: A grande aposta.
MELHOR ANIMAÇÃO
CONCORREM: Anomalisa, Divertida Mente, O menino e o mundo, Shaun - O carneiro e When Marnie was there.
Pra quem torço: eu só assisti a Anomalisa, Divertida Mente e o brasileiro O menino e o mundo. Todos são ótimos e muito diferentes entre si. Torço pra Divertida Mente, que é o meu favorito.
Quem eu acho que vai ganhar: Divertida Mente.
MELHOR FOTOGRAFIA
CONCORREM: Carol, Os 8 odiados, Mad Max, O regresso e Sicario. .
Pra quem torço: todos os concorrentes estão fodas. Mas torço pra Carol. Dã.
Quem eu acho que vai ganhar: O regresso (e lá vai o diretor de fotografia do filme ganhar o prêmio sei lá, pela terceira vez seguida?).
:B |
E vocês, o que acharam disso tudo – das polêmicas, dos indicados, dos esnobados e quais são as suas torcidas? Sintam-se à vontade pra comentar aqui embaixo :D. Pra quem tem Twitter: nos vemos dia 28, data da cerimônia do Oscar, pra comentar bastante e compartilhar muita piadinha.
*Fonte: “Gender Equality in 500 Popular Films”, estudo da University of Southern California