O diretor grego Yorgos Lanthimos já ganhou a atenção de críticos do mundo inteiro com seu estranho longa Dente canino, de 2009, que narra o dia a dia de uma família que decidiu criar os filhos sozinhos, trancados em casa, sem qualquer influência do que existe lá fora. Lanthimos, neste ano, lançou seu primeiro filme falado em inglês usando a mesma abordagem chocante e atores ricos e famosos, como Colin Farrell, Rachel Weisz (que aparentemente dorme submersa em formol), John C. Reilly e Léa Seydoux.
Quando digo abordagem chocante, é pela estranheza da história em si, a condução, os diálogos e situações surreais que fogem totalmente dos filmes convencionais com que estamos acostumados na indústria do cinema. Você vai entender melhor com essa sinopse de The lobster: em um mundo distópico, as pessoas são proibidas por lei de ficarem solteiras. Qualquer pessoa fora de um relacionamento é enviada para um enorme resort, onde tem 45 dias para encontrar um(a) parceiro(a). Caso após esse prazo não se arranje com ninguém, o hóspede é transformado em um animal de sua preferência e solto na Floresta.
Como puderam perceber, criatividade é o que não falta aqui, amigos. A lagosta do título do filme é o animal em que o protagonista, David (Colin Farrell), gostaria de se transformar se sua missão não der em nada. Acompanhado do irmão Bob, um Border Collie, David chega ao resort após seu último relacionamento acabar e é, de certa forma, os olhos do espectador, que está ansioso para entender melhor as regras bizarras que regem essa sociedade.
O filme é narrado pela personagem da Rachel Weisz e, desde a primeira cena, já somos impactados pelo tom meio surrealista com que é conduzido, nos permitindo encarar as situações absurdas da história de forma mais natural. "Faz parte do show". Os poucos closes e as interações apáticas entre os que aparecem em cena mantêm o público igualmente distante deles (com exceção de David, que parece estar o tempo inteiro desconfortável com o que acontece). O que é proposital, já que o filme busca retratar a superficialidade das relações modernas e fazer uma crítica ácida à obrigação que nos impõem em ter um relacionamento amoroso com alguém. Quantas vezes não paramos pra pensar que as pessoas são aceitas integralmente e como seres plenos somente quando estão acompanhadas?
A partir daí, compreenda The lobster como um conjunto de metáforas a respeito das convenções sociais e do amor; tudo com muito sarcasmo e humor negro. Você vai se pegar rindo várias vezes (espero), ao mesmo tempo em que reflete sobre o que nos ensinam sobre relacionamentos.
The Lobster ganhou o Prêmio do Júri no Festival de Cannes deste ano. :)
"Um dia ele percebeu que é muito mais difícil fingir que você tem sentimentos quando não tem do que fingir que não tem sentimentos quando os tem".