Jack é um garotinho de 5 anos que mora com sua Mãe no Quarto. Lá é onde os dois dormem, comem, brincam, leem, assistem à TV e aprendem juntos. Em suma, para Jack, o Quarto é o próprio mundo em que vive, já que, desde que nasceu, ele nunca conheceu nada que existe do lado de fora.
Sinceramente, acho que essa é a única sinopse que as pessoas deveriam ler antes de pegar o livro. Não que as respostas para o que é o Quarto ou porque Jack nunca saiu dele sejam o grande clímax, porque não são: você descobre isso no primeiro terço da história, mas o legal é fazer isso aos poucos, interpretando sozinho, sacando o que há nas entrelinhas. É, nas entrelinhas, porque o livro inteiro é narrado sob o adorável ponto de vista do Jack.
"Quarto" é considerado best-seller pelo New York Times e pelo Independent, além de finalista do The Man Booker Prize. Só esse reconhecimento e sua premissa superoriginal já são suficientes para as pessoas ficarem no mínimo curiosas, mas é fácil ir além. "Quarto" foi o primeiro livro do ano que terminei em poucos dias; ele é extremamente fácil de ler justamente porque é contado pelo Jack, em sua linguagem infantil e com todas as suas percepções sobre o que o cerca. E quando digo isso, não significa nem de longe que a narrativa seja boba. Muito pelo contrário: além da realidade se mostrar bem espinhosa, é tudo muito inteligente, bem amarradinho e fascinante. O talento de Emma Donoghue em entrar na cabeça de uma criança tão pequena com tanto realismo é de impressionar. O resultado disso é um personagem cativante, doce e inesquecível.
Me peguei emocionada (do tipo chorando) ou mesmo rindo em várias páginas sem que nada de importante ou revelador estivesse acontecendo. Pura "perspicácia narrativa". É comovente o amor que existe entre Jack e sua mãe e a conclusão simples, mas poderosa, de que no fim das contas um era o mundo do outro.
"Hoje eu tenho cinco anos. Tinha quatro ontem de noite, quando fui dormir no Guarda-Roupa, mas quando acordei na Cama, no escuro, tinha mudado pra cinco, abracadabra. Antes disso eu tinha três, depois dois, depois um, depois zero."
"O que fez o Menino Jesus começar a crescer na barriga da Maria foi um ano que desceu voando que nem um fantasma, só que um fantasma superlegal, com penas. A Maria ficou toda surpresa e disse “Como é possível?”, e depois “Está bem, assim seja”. Quando o Menino Jesus pipocou da vagina dela no Natal, ela colocou ele numa manjedoura, mas não para as vacas comerem, só para elas deixarem ele aquecido com seu bafo, porque ele era mágico."
A adaptação cinematográfica do livro já está ganhando mil e um elogios e figura em várias listas dos possíveis indicados ao Oscar 2016, como Melhor Filme, Melhor Atriz (Brie Larson) e Melhor Roteiro Adaptado (a própria Emma Donoghue quem escreveu). Com o título de "O quarto de Jack", por aqui, infelizmente, só tem data de estreia prevista para o ano que vem. Por isso mesmo, devo ter assistido ao trailer umas três vezes. Se você NÃO liga pra spoilers, manda ver: