Esquete do Porta dos Fundos |
É botar os pés no aeroporto e todo meu corpo fica alerta a qualquer sinal remoto de tragédia iminente:
1. Atraso do voo: oh, não. Algo aconteceu, certamente. Por que está atrasado? Alguma peça danificada? Descobriram alguma pane e precisam verificar antes da próxima decolagem? E se não conseguirem consertar? E se
2. Mecânicos mexendo na aeronave: tô vendo ali pela janela. Ah lá. Claro que isso não é rotina, imagina. Deu merda no avião e tão tentando reverter. E se ligarem o fio vermelho no fio amarelo por engano?
3. Meu Deus, saporra é de hélice: como que isso levanta voo? Como se sustenta no ar? E se uma pá quebrar? E SE
4. Temos crianças: ufa, há crianças entre os passageiros. De colo, que falam gugu-dadá. Tão bonitinhas, babando, dançando no colo da mamãe. Um avião com crianças não cai.
5. O avião parece muito novo: muito branco, né? Notei. Nada gasto. Moderno. Quantas horas de voo ele tem cadastrado? ELE JÁ VOOU ANTES?
6. Assento próximo à asa: importante ter acesso a uma visão privilegiada da asa e da turbina. Caso ela pegue fogo ou perca alguma parte, seremos os primeiros a desmaiar e perder todo o show de horrores sequencial.
7. Gente mexendo no celular: querido, você não ouviu o recado da aeromoça sobre aparelhos estarem desligados mesmo em modo avião durante a decolagem? Ei, psiu. Desliga isso, tá na hora. Vai derrubar o avião. Vai derrubar e eu vou me ver contigo no céu, filho da puta.
8. Vixe, o tempo tá feio, né: já não bastava neblina, agora tem chuva. Ferrou tudo. Não vai ter teto. O painel do avião vai dar biziu. Ninguém vai enxergar nada. Vamos parar no Triângulo das Bermudas e sumir pra sempre.
9. Procedimentos de emergência: todo santo voo é a mesma apresentação dos procedimentos, afivelar os cintos, cair máscara de oxigênio, ajudar as crianças e idosos, procurar uma saída, usar a poltrona pra flutuar. Nem preciso ler mais a cartela. Mas.. ai. Melhor reler, né? E se eu preciso? E SE
10. O aparelho do som deu interferência: comissária de bordo foi interrompida por uma chiada no aparelho enquanto dava as instruções aos passageiros. COMEÇAMOS MAL. Se uma porcariazinha dessa não funciona direito, imagina o painel dos pilotos!
11. A voz do piloto: "Obrigado por escolherem essa companhia aérea, eu sou o comandante Pereira e a decolagem foi autorizada". Notei um certo nervosismo na voz desse senhor. Seria mau humor? Cansaço? INEXPERIÊNCIA? Vontade de realizar um suicídio coletivo? Eu acho que o comandante Pereira precisa se acalmar antes da decolagem.
12. A decolagem: segurem esses cus e as mãos firmes nos braços da poltrona que essa nhaca tá saindo do chão. 80% dos acidentes aéreos ocorrem na decolagem ou no pouso, não podemos esquecer. Reza, reza pra todos os santos e conta mentalmente 30 segundos. Se conseguir chegar lá, está a salvo (por enquanto)!
13. O semblante dos tripulantes: simpática a aeromoça. Mas aquelas outras duas estão muito sérias. Foi aquela sacodida que o avião deu? Será que elas estão preocupadas? Elas sabem de alguma coisa, lógico. Mas precisam manter a calma pra evitar o caos entre os passageiros. Já estou suando.
14. O sinal de desafivelar os cintos: depois da decolagem angustiante, FINALMENTE toca a campainha que significa "Deu tudo certo galera, liberado ouvir música, jogar Candy Crush e usar o banheiro". Um dos poucos momentos de alegria do voo (o outro é quando o avião pousa).
15. Preciso mesmo ir ao banheiro: mentira, mas é bom passar uns 5 minutinhos trancado naquela cabine. Dá uma falsa sensação de proteção que nosso cérebro interpreta como verdadeira, sabe? Não tô vendo nada, sentindo nada, apenas curtindo o silêncio dali. Se o avião estiver caindo nem vou saber.
16. Cortininha fechada: por que a tripulação fechou aquela cortina atrás de si? Estão cochichando. O avião está em perigo? Bem provável. Combinando um jeito de contar pra gente. Ou dizendo que é cedo demais pra achar qualquer coisa. Ou estão chorando.
17. Turbulência: clássico, não é mesmo? Tem a básica, parecida com aquela sensação quando o carro passa por ondulações no asfalto, e a perigosamente mortal, como um carro trepidando por uma estrada de terra repleta de crateras que te levam a buracos negros. Nesse estágio é normal gritar.
18. O pouso: tá chegando no fim, o piloto já anunciou a descida, e nossos olhos arregalados não deixam escapar nenhum detalhe desse processo. O avião não está indo rápido demais? E se precisar arremeter? Opa, desacelerou. E agora parece muito devagar. Pode perder altitude, não? Nossa, muito perto dos prédios. Meu Deus, comandante, acerta aí esse negócio, acho que tá torto! As rodas vão tocar o chão, vão tocar, vão tocar, VAAAAAA