Estou surpresa com a quantidade de livros que tenho lido num tempo relativamente curto (não me comparo às pessoas que leem 4 ou 5 livros em único mês porque NÃO DÁ. Sério, como elas conseguem? Não estudam? Trabalham? Não comem, têm outros hobbies?). Apostei na Gillian Flynn depois de escutar muitos elogios, principalmente a respeito de Garota exemplar, que quis muito ler depois de ter assistido ao filme (ainda não fiz isso porque a história está fresca na cabeça). E, bom, posso dizer que estou bastante satisfeita.
Lugares escuros nos leva até Libby Day, uma mulher de 32 anos que, aos 7, foi a única sobrevivente do assassinato brutal de sua família – a mãe e duas irmãs – em sua casa numa fazenda de Kinnakee, Kansas. Machadadas, tiros e frases satânicas escritas com o sangue das vítimas nas paredes tornaram o caso famoso por décadas. Na época, ela testemunhou contra o irmão mais velho, Ben, de 15 anos, acusando-o de ser o autor do crime, o que acabou condenando-o à prisão perpétua. Libby cresceu solitária, antissocial, triste, arredia, sem amor próprio e sustentada basicamente por doações de pessoas comovidas com o caso. Mas, como nada nessa vida é para sempre, Libby se vê à beira da falência. Justamente nesse momento ela é convidada a comparecer ao Kill Club, um clube bizarro voltado para membros aficionados por crimes misteriosos que estão dispostos a pagar pela presença dela e por sua ajuda para revirar a noite dos assassinatos, já que nenhum deles acredita que Ben foi o responsável. A partir daí, Libby começa a questionar se realmente não teria dado falso testemunho depois de pressionada em seu depoimento.
Só essa sinopse (gigante, sorry) já foi o suficiente pra eu ter ficado com vontade de ler. Sim, porque pra quem não sabe, adoro livros de suspense policial, casos macabros e bizarrices sem fim. E minha experiência com Lugares escuros foi ainda mais gratificante porque Gillian Flynn é sensacional: a impressão é que ela passou um mês imersa em cada personagem, imaginando como ele dorme, o que ele come, o canta no chuveiro, quais são suas motivações em todos os detalhes e só depois se sentou pra escrever a história. A narrativa é superenvolvente e muito, muito rica; traz o leitor pra dentro dela com facilidade. Libby é uma pessoa completamente desagradável, mas você vai acabar gostando dela e se colocando em seu lugar: mais um ponto pra autora.
Lugares escuros é contado nos dias atuais, sob o ponto de vista de Libby (em primeira pessoa), e no dia que antecedeu o crime, em terceira pessoa, segundo Patty Day (a mãe) e Ben. As duas linhas narrativas caminham juntas até o momento em que Libby avança na sua investigação pessoal e o mistério é revelado, tornando o leitor praticamente um ser onisciente. E nem se esforce muito pra tentar adivinhar o que realmente aconteceu, se Ben foi mesmo culpado ou não, porque você não vai conseguir.
"Há poucas frases que me incomodam mais do que 'eu não mordo'. A única que me deixa mais puta depressa é quando um bêbado gordo me vê tentando passar por ele e rosna: 'Sorria, não pode ser tão ruim!' Na verdade, pode, imbecil."
"Sempre que vejo matérias sobre crianças mortas pelos pais, eu penso: Como pode ser? Eles se importaram o bastante para dar um nome à criança, tiveram um momento – pelo menos um momento – em que examinaram todas as possibilidades e escolheram um nome específico para seu filho, decidiram como iria chamar o bebê. Como você pode matar algo com que se importou o suficiente para batizar?"
Já existe o filme adaptado do livro, lançado esse ano, e com o mesmo título: Lugares escuros. É protagonizado pela Charlize Theron e ainda tem no elenco a Chloe Moretz, o Nicholas Hoult e a Christina Hendricks, quem interpreta a mãe, Patty Day. Achei que ela ficou bonitinha demais pro papel, visto que a Patty é mais sofrida que a Maria do Bairro. Faltou desgaste, olheiras, cabelo desgrenhado e mais uns litros de lágrimas. É sim um bom filme, mas tinha potencial pra ser muito melhor se fosse dirigido por outra pessoa, na minha opinião. Achei bastante fiel ao livro, mas, como sempre, deixa a desejar em relação à obra que lhe deu origem: é impossível entender os fundamentos dos personagens com a mesma profundidade com que entendemos lendo, e isso prejudicou o clímax do filme. MÃS vale a pena ver sim! Charlize está ótima e deixou a personagem Libby bem mais "gostável" e com sua fragilidade mais exposta, ao contrário do livro, em que ela tenta quase o tempo todo parecer durona mas na verdade está quebrada.