Ela chegou de supetão. Agarrou-se a mim como uma criança que não quer desgrudar da mãe. Deixei-a entrar em vez de passar pela porta. Acho que mais por dependência emocional do que por qualquer outra coisa. Eu precisava dela.
A alimentei e arranjei um lugar quente pra dormir. “Fica, a casa é sua”, foi o que eu quis dizer. Ela ficou. Fazíamos tudo juntas. Sentia o sangue correndo nas veias, a cabeça quente e, as lágrimas, mais ainda.
Os dias se transformaram em meses. Ela, então, passou a mão sobre meus olhos e deitou-se sobre meu coração, que não voltou a flutuar. Sua companhia, antes justa, começou a parecer incerta.
Requeri meu espaço de volta, mas seu sono era leve: acordava alardeando, querendo atenção. Seu quarto continuava lá – de luz apagada e porta trancada, mas ela sempre dava um jeito de fazer uma visita. E, eu, fazia sala.
Gritei. “Me deixa em paz”, foi o que eu quis dizer. Ela não se foi. Resolveu viver como uma sombra. Enquanto eu, desesperada à procura de uma maneira de me levantar do sofá, não percebi que sua partida dependia não de gritos de ordem, mas de alguém dizendo gentilmente “Me perdoe”.
11 agosto 2015
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Mágoa
postado por Manu Negri
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