Existe preconceito com filme antigo sim e taí o bullying sofrido por mim que não me deixa mentir. É nessas horas que eu penso naquelas pessoas que curtem não o cinema, mas sim passar um tempinho do dia assistindo a um filme. Nada contra. Mas neste post eu vim agir como mãe: como assim você diz que não come brócolis, se nunca experimentou? (essa analogia não serve pra tudo na vida, mas nesse caso vamos usar)
É fato que a linguagem cinematográfica evoluiu com o passar dos anos e nos tornamos um público muito mais sofisticado do que o dos anos 30, 40, 60. Por isso esse estranhamento natural com a narrativa empregada nos filmes mais antigos; mas o legal é exatamente isso: entender como o cinema funcionava, as técnicas, a direção, a estética e tudo mais. Particularmente, acho fascinante :D Portanto, pra gente quebrar o gelo e tentar deixar esse mimimi não-vejo-filme-em-preto-e-branco de lado, indico cinco filmes clássicos excelentes:
O que terá acontecido a Baby Jane?, 1962
Jane Hudson (Bette Davis) foi uma artista que alcançou a fama quando criança e ficou conhecida como "Baby Jane". Agora, envelhecida e distante do público há muitos anos, vive encerrada em uma mansão com sua irmã Blanche Hudson (Joan Crawford) desde um acidente que selou a sorte de ambas, terminou a carreira de Blanche e acelerou a decadência geral de Jane. Disposta a brilhar nos palcos novamente, Jane volta à Baby Jane, passando por cima de tudo e de todos para atingir seu objetivo.
Bette Davis e Joan Crawford estão impecáveis em seus papéis, encarnando as irmãs que convivem feito gato e rato, como as próprias atrizes nos bastidores do filme (reza a lenda que uma mandava bilhetes ameaçadores pra outra, reclamavam com o diretor e discutiam horrores). Obrigada a cuidar de Blanche, de quem sempre teve inveja por sua trajetória brilhante no cinema, Baby Jane passa os dias tentando resgatar o brilho de uma outra época enquanto maltrata a sempre passiva irmã. O clima de suspense, mantido o tempo inteiro, culmina num final de cair o queixo. É genial.
Quem tem medo de Virginia Woolf?, 1966
George (Richard Burton), um professor universitário, e Martha (Elizabeth Taylor), sua esposa que é também filha do reitor, recebem no final da noite Nick (George Segal), um jovem professor, e Honey (Sandy Dennis), sua mulher. À medida que a noite avança, as confissões entre os quatro se tornam mais ácidas, revelando verdades bem deprimentes.
Esse foi o melhor filme que assisti no ano passado e é um dos meus favoritos da vida no geral, baseado numa peça escrita pelo americano Edward Albee em 1962. O elenco, sensacional, é encabeçado por Elizabeth Taylor, no papel de uma mulher possessiva, amarga e espalhafatosa que não mede esforços pra tentar atingir o marido. O problema é que ele rebate, e ambos acabam envolvendo em um jogo autodestrutivo os jovens convidados, que via nos dois um exemplo de casal bem sucedido. A fotografia sombria, o ambiente claustrofóbico e os diálogos afiadíssimos ajudam a dar o tom desse filme brilhante.
Os inocentes, 1961
"Algo estranho e sinistro estava acontecendo naquela casa", pensou Giddens (Deborah Kerr), contratada para cuidar de Flora e Miles, dois irmãos que ficaram órfãos em circunstâncias misteriosas. Com o passar do tempo, Giddens acredita que existe alguma coisa escondida nas trevas da mansão, fazendo com que as crianças tenham um comportamento muito assustador."
Baseado no óoootimo livro de Henry James, chamado "A volta do parafuso", e roteirizado por Truman Capote, Os inocentes é um suspense/terror psicológico dos bons. Ambientado na Inglaterra vitoriana, tem na estética em preto e branco uma grande aliada para criar um visual bastante sombrio e meio gótico. Destaque para as atuações das crianças, principalmente do ator que interpreta o Miles, e para a trilha, que é de arrepiar os cabelim do braço. Lembro até hoje de uma cena que me GELOU A ESPINHA como nenhum filme de terror moderno conseguiu fazer. Curiosidade: serviu de inspiração para o filme Os outros, aquele com a Nicole Kidman.
O homem que ri, 1928
Não tem trailer :( |
Baseado na obra de Victor Hugo, O homem que ri é um dos títulos da corrente do expressionismo alemão e foi o primeiro filme mudo a que assisti. Calma, gente, não precisam ter medo da palavra "mudo" no contexto "cinema". O ideal é mesmo pensar em assistir a uma história e esperar para ver como ela será contada. É incrível poder entender o que está acontecendo cena por cena por meio dos gestos e das expressões corporais dos personagens; Conrad Veid, que interpreta Gwynplaine, consegue transmitir toda sua tristeza, vergonha e medo principalmente através dos olhos (sua caracterização, aliás, inspirou anos depois a criação do Coringa). Um filme extremamente sensível.
O homem elefante, 1980
A história de John Merrick, um desafortunado cidadão da Inglaterra vitoriana que era portador do caso mais grave de neurofibromatose múltipla registrado, tendo 90% do seu corpo deformado. Esta situação tendia fazer com que ele passasse toda a sua existência se exibindo em circos de variedades como um monstro.
Pegadinha do Malandro: O homem elefante é em preto e branco, mas foi lançado em 1980. Não é tão antigo assim, porém eu não ficaria surpresa com pessoas que se recusassem a assistí-lo só por esse motivo. Por isso, vamos pular essa fase e preparar os lenços de papel, porque é provável que você chore ao longo do filme. John Merrick, depois de um bom tempo servindo a circos de horrores, dá a sorte de ser encontrado pelo médico Frederick Treves (vivido por um jovem Anthony Hopkins), que o leva a um hospital. A partir daí, John se liberta emocional e intelectualmente, recuperando sua dignidade e revelando-se o ser humano que ninguém conseguia enxergar. Um dos favoritos da vida também.