"Esse filme não possui narração ou legenda porque o amor e o ódio não precisam de tradução". É assim que começa A gangue, e essa frase será a única coisa que você irá ler durante as mais de duas horas seguintes, sem qualquer aparato vocal, já que a história toda é contada em linguagem de sinais.
Dirigido pelo ucraniano Miroslav Slaboshpitsky (-q), A gangue – seu longa de estreia – conquistou quatro prêmios no Festival de Cannes do ano passado, além de muitas outras premiações pelo mundo, graças à sua estética, originalidade e resultado fantástico alcançado por um elenco composto apenas de atores surdos. Talvez tenhamos aí uma obra-prima, ladies and gentlemen.
O filme narra a história de Sergey (e só sabemos o nome dele por causa da ficha técnica, risos), um adolescente que entra para um internato especial para surdos e logo descobre que alguns alunos montaram uma rede de crimes e prostituição da qual ele fará parte em breve.
A maioria das cenas é bastante longa e em plano sequência – quando a ação ocorre sem cortes – para que a gente possa entender tudo o que está acontecendo, o que, pra mim, é a melhor coisa de A gangue. Cenas longas, inclusive, que capturam momentos bastante reais e crus, do seu começo ao fim, como sexo, violência e um outro em particular bem difícil de assistir, principalmente se pensarmos que acontece a rodo todos os dias.
Outra coisa que achei supimpa, bacanuda e da hora é que o filme nos joga de cabeça dentro do universo particular de quem é surdo, nos fazendo refletir sobre nossos próprios pré-conceitos, principalmente quando há a tendência de enxergar essas pessoas como coitadinhas. Em A gangue, os personagens não têm nada disso, muito pelo contrário.
Em 2010, Miroslav já havia dirigido um curta-metragem com o tema, chamado Surdez. Em Cannes, disse que tinha essa vontade de filmar um longa todo em linguagem de sinais porque a comunicação entre surdos era uma coisa que o fascinava desde criança. Também contou que todos os sons de A gangue vieram do próprio set de filmagens, naturais, sem filtro, para passar mais realismo.
Em suma, A gangue pode até parecer um pouco arrastado, mas, além de todos esse motivos aí em cima, é muito interessante acompanhar a estadia do protagonista Sergey no internato, lidando diariamente com o crime e a violência – ainda que tristemente tente resistir – e sendo transformado pela dinâmica peculiar daquele submundo.
24 março 2015
Labels:
TV e Cinema
A gangue: um filme inteiro em linguagem dos sinais
postado por Manu Negri
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