50 tons de cinza talvez seja um dos poucos exemplos em que o filme é melhor que o livro. Bom, nesse caso, qualquer adaptação provavelmente ficaria melhor que o livro, que é tão ruim que mal passei da metade, mas acho que esse apanhado de críticas que formaram uma avalanche na internet desde sua estreia nos cinemas é, em grande parte, só vontade de pegar no pé por simples prazer.
Lembrando que vou falar apenas sobre o que assisti, e não sobre o que li, e que as minhas impressões não são verdades absolutas.
Acontece que muita gente tem falado que o filme pode ser um mau exemplo pras meninas que venham a achar que o tipo de relacionamento abusivo entre Christian e Anastasia é bacana, que romantizaram a violência, etc e etc. Primeiramente: filme não tem que dar exemplo de nada. Segundamente, não identifiquei lá abuso, não. Explico o porquê logo mais.
A história é conhecida, creio eu, até por quem nunca leu ou assistiu a nada. Anastasia é uma estudante de literatura que se envolve com o bilionário e jovem empresário Christian Grey (Grey, cinza... pegoupegou?), mas logo descobre que ele tem um segredinho safado chamado BDSM (Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão, Sadismo e Masoquismo) que dita as regras de todos os seus “relacionamentos”. Em aspas, mesmo, porque o que ele propõe a ela está longe de ser um relacionamento convencional.
Supreendentemente, paguei língua e saí do cinema satisfeita. É um filme OK, legal pra passar o tempo, um bom entretenimento; portanto, paremos de analisá-lo como um possível concorrente ao Oscar (que, vamos combinar, nem sempre premia filmes ótimos). A trilha sonora é legal, a fotografia é interessante em alguns momentos e dou créditos à atuação de Dakota Johnson, que se esforçou para criar uma Anastasia mais humana e real (ao contrário da inexpressiva Bella Swan de Kristen Stewart; lembrando que 50 tons inicialmente era uma fanfic de Crepúsculo).
Olhar penetrante: fomos violentadas com tamanha luxúria |
Claro que em 50 tons há o fator sexo, o oposto do que prega Crepúsculo, mas eu apostaria minhas fichas que o "segredo" está mais no que eu disse acima. Aliás, as tão esperadas cenas de sexo ~explícito~ soaram bem morninhas pra mim, no entanto é compreensível; afinal, trata-se de um filme de Hollywood, em que os estúdios tentam reduzir ao máximo a classificação indicativa e atrair mais público (que, na língua de lá, significa mais grana). Nem imagino o que um Lars Von Trier faria com uma adaptação dessa.
Aí entra outra polêmica: Christian é abusivo com Ana ou não? Bom, tudo o que acontece com eles entre quatro paredes é consensual. Por mais que Anastasia seja a submissa dele e que inicialmente pareça não ter muita personalidade, em nenhum momento Christian força a barra: é ela quem tem que querer ou aceitar. Apesar de algumas cenas me incomodarem um tico (falo delas mais pra frente), não vi Christian tratando-a como um ser inferior apenas por ser mulher; seu lado mandão e distante pode muito bem ser consequência da sua prática de BDSM, então ele compensa Ana dando-lhe presentes e andando de avião e helicóptero.
Por um lado, acho bem positivo que o foco esteja na descoberta da sexualidade de Ana. O prazer dela é o mais importante. E, na cena final *SPOILERS ALERT*, quem está submisso é o Christian; Anastasia é quem decide romper por já não estar mais confortável com a situação, mostrando que essa história de “se humilhar” pra ter seu homem não é bem assim.
Pontos negativos: vários.
Como muita gente já comentou desde a estreia, recursos narrativos como close em Dakota Jonhson colocando o lápis do sr. Grey na boca, uma tomada do seu prédio empresarial de baixo pra cima, evidenciando uma forma fálica, e Anastasia saindo do prédio sem guarda-chuva em meio a um toró (me recuso a dizer que ela ficou molhada e... bom, já disse) dão um pouco de vergonha alheia.
Como muita gente já comentou desde a estreia, recursos narrativos como close em Dakota Jonhson colocando o lápis do sr. Grey na boca, uma tomada do seu prédio empresarial de baixo pra cima, evidenciando uma forma fálica, e Anastasia saindo do prédio sem guarda-chuva em meio a um toró (me recuso a dizer que ela ficou molhada e... bom, já disse) dão um pouco de vergonha alheia.
Inclusive, nesse primeiro encontro entre eles, onde Ana vai em nome da colega de apartamento fazer uma entrevista com Christian, em poucos minutos ela consegue soltar uma frase mais ou menos assim: “Quem sabe você não tenha um coração muito maior do que deixa transparecer?”, baseada apenas em um comentário do gacto. Bitch, please.
Em outra cena irritante, Christian vai salvar a pobre donzela, indefesa e bêbada Anastasia em uma boate, porque certamente uma garota de 23 anos acompanhada de seus amigos precisa ser salva e protegida dos efeitos do álcool. Mais pra frente, *SPOILER ALERT*, quando descobre que Ana é virgem, ele pega seu rosto com as duas mãos, solta um absurdo “Por onde você esteve?” e depois emenda "Vamos corrigir esse problema" enquanto a arrasta para o quarto do amor a fim de serem muito transões. Aparentemente, ser virgem é um problema E um bem muito valioso na vida de uma mulher.
No mais, dois conselhos:
1) Vá ao cinema com dois baldes. Um pra pipoca e outro pra vômitos ocasionais.
2) Aprecie a vista.
1) Vá ao cinema com dois baldes. Um pra pipoca e outro pra vômitos ocasionais.
2) Aprecie a vista.