10 janeiro 2015

Mommy: a obra-prima de Xavier Dolan?

postado por Manu Negri



Comecei a acompanhar mais de perto (se assim podemos dizer) as premiações mundiais do cinema de uns tempinhos pra cá e, quando vi quais filmes do Festival de Cannes arrancaram lágrimas, palmas (de ouro ou não, risos) e elogios do público, prestei atenção. Mommy foi um deles.

Além de ter sido ovacionado por mais de dez minutos depois da exibição, o filme levou pra casa o Prêmio do Júri. Foi quando o incluí na minha lista para assistir, roguei aos deuses para que chegasse logo aos cinemas e, muitos meses depois, o ingresso estava na mão. Posso dizer que poucas vezes minhas expectativas, que já são altas quando se trata de sucessos de crítica, são alcançadas. Nesse caso, foram superadas. E só quem me conhece sabe o quão insuportável eu posso ficar quando me apaixono por um filme.

A história de Mommy se passa num Canadá fictício, quando foi promulgada uma lei permitindo que pais de filhos problemáticos pudessem abandoná-los aos cuidados do governo. Diane Després (Anne Dorval), a Die, é mãe de Steve (Antoine-Olivier Pilon), um adolescente com TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade), inquieto, impulsivo e explosivo que, às vezes, pode oferecer perigo a outras pessoas. Nesse contexto, Steve é expulso do internato onde vive e precisa voltar a conviver com Die, que decide cuidar sozinha do filho em meio a dificuldades financeiras e emocionais. Enquanto tentam sobreviver, a nova vizinha da casa da frente, a tímida Kyla (Suzanne Clément), se envolve com os dois e, juntos, encontram um novo caminho para a esperança.

Uma breve pesquisa sobre Xavier Dolan, o diretor, roteirista e produtor de Mommy, me fez descobrir um outro filme dele que há tempos quero ver  Laurence Anyways , mas não me preparou para o que eu ia perceber em seguida: ele tem apenas 25 anos. Nessa idade, ele já produziu um filme que muitos cineastas levam uma vida inteira para conseguir. Nah, não acho que eu esteja exagerando, mas você, caro e estimado leitor, tem todo o direito de discordar. Ainda não sei se existe alguma característica peculiar presente nos seus outros trabalhos, mas em Mommy já deu pra perceber que Dolan gosta de experimentar coisas diferentes. É possível notar logo nos primeiros minutos do filme, quando reparamos na tela em formato 1:1 (imagine o filme projetado naquela telona do cinema, mas ocupando apenas um formato quadrado de Instagram); é normal estranhar no começo, mas no minuto seguinte você esquece desse detalhe que, pode apostar, tem todo um significado especial que descobrimos lá pra metade da trama.

Cena do filme em razão de aspecto 1:1
E essa escolha também é responsável pela fotografia de Mommy ser incrível. Na verdade, praticamente tudo aqui é incrível, desde a trilha sonora pop  com Oasis, Counting Crows, One Republic, Dido e Lana Del Rey , até a atuação magnífica desses três atores. Seus personagens passam constantemente a impressão de que estão presos dentro de suas próprias vidas, mas, quando se encontram, experimentam  mesmo que por breves instantes  a liberdade que os faz continuar seguindo em frente. Mommy fala sobre isso, mas, principalmente, fala sobre o amor incondicional de uma mãe. Para isso, cenas memoráveis e encantadoras não faltam; fiquei sem ar inúmeras vezes, com o coração completamente preenchido e pesado  sensações que sempre espero sentir quando vejo um filme. Porque cinema é isso: uma experiência sensorial.

Por fim, temos uma obra tristemente bonita, que alterna momentos de alegria e dor o tempo todo. E, meus amigos, reitero: quando um filme consegue me arrancar umas lágrimas ainda pela metade, é porque ele é bão mermo.

"Amar alguém não quer dizer que você pode salvá-lo."