03 junho 2014

Dez centavos o minuto

postado por Manu Negri



– Feliz Natal, sua danadinha!

– Evandro? Meu Deus, que surpresa. São duas da manhã e faz quase um ano que não tenho notícias suas.

– Desde que morávamos sob o mesmo teto, meu bem. Como você está?

– Ótima. Ótima. Está tudo bem. Andei saindo mais com os amigos ultimamente, respirando novos ares. Até fiz um curso de sushi, acredita? Lembrei de como você adorava.

– Puxa, que bacana. Quem sabe um dia eu experimente, não é? Olha, aliás, esses meses têm sido incríveis. Vasculhei a Europa de cabo a rabo experimentando culinárias diferentes. Experiência inesquecível.

– Uau, Evandro, que bom. De verdade. Bom ver que você parece feliz. Está passando o Natal em casa?

– Estou na casa do Jorge, lembra dele? Jantamos juntos antes dos papéis saírem. Ainda trabalha na Souza & Filhos. Acabamos de acender a lareira, terminando de tomar um vinho. A esposa dele é uma simpatia e preparou de ceia uma torta de bacalhau realmente divina. Alô? Sônia? A ligação está falhando, você disse alguma coisa?

– Não, não disse.

– Pois então, onde você está comemorando? Na casa da minha ex-sogrinha?

– Não, esse ano a família se reuniu no nosso apartamento. Digo, no meu. Bom, a verdade é que eu queria que fosse nosso ainda, Evandro. Sinto falta do Evandro e da Sônia. Pronto, falei. Eu sei que você está em outra, que o acordo foi feito em paz, mas vou te confessar que nunca deixei de pensar nisso. Você podia estar aqui. Junto com meus pais, sobrinhos, tios. Ia ser muito mais legal, sabia? A noite começou com o cachorro comendo as castanhas da mesinha de centro da sala. Mas como o dia é de paz e harmonia, todo mundo riu. À meia noite a fome já tinha levado quase todo mundo pra mesa, e aquela ceia bonitinha de novela que eu tanto imaginei foi por água abaixo. Ainda tive que avisar que dia 25 chegou, senão ninguém ia prestar atenção. Começaram a bater palmas e a falar de boca cheia, chester caindo no prato, você pode imaginar. Na hora dos presentes, foi um pulando em cima do outro, tia Margarete rindo com um chiclete grudado no pino onde deveria estar o dente que caiu de manhã...

– Alô? Sônia? Não ouvi nada, a ligação ficou péssima. Ainda está aí?

– Estou sim. Disse que estamos todos em casa, nos divertindo. Tenho que desligar, tia Margarete engoliu o chiclete. Um beijo.


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